As caixinhas organizadoras de comprimidos, tão comuns na rotina de quem toma vários medicamentos por dia, podem parecer uma solução prática, mas o uso incorreto pode trazer riscos importantes para a saúde.
Coloridas, divididas por horários e dias da semana, essas caixinhas prometem facilitar o tratamento, especialmente para quem tem dificuldade de memória, está em viagem ou precisa organizar muitos comprimidos. Só que o hábito de tirar os medicamentos das embalagens originais e colocá-los nesses compartimentos pode comprometer o efeito do tratamento e até causar erros graves.
“O uso da caixinha organizadora deve ser orientado por um profissional de saúde, como o farmacêutico”, alerta a professora Marina Raijche Mattozo Rover, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutora em Farmácia e especialista em Farmácia Clínica. “Alguns medicamentos são sensíveis à luz e à umidade, e a manipulação ou armazenamento inadequado nas caixinhas pode aumentar o risco de degradação.”

Esses cuidados são reforçados pela própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A embalagem original do remédio, chamada de embalagem primária, é essencial para proteger o medicamento de fatores como luz, calor e umidade. Sem essa proteção, o comprimido pode perder sua ação e, em alguns casos, até fazer mal.
Além disso, há o risco de erro ao organizar os compartimentos. “Se algum medicamento for colocado no lugar errado, poderá levar à omissão ou duplicação de doses”, alerta Marina. O ideal é que a caixinha seja preenchida em um ambiente limpo, para poucos dias, e conferida por outra pessoa.
Apesar dos riscos, quando usadas com orientação, as caixinhas podem ser úteis. “Elas podem ajudar a evitar confusão de medicamentos ou horários e facilitar a conferência das doses utilizadas”, diz a professora. Mas nem todo tipo de remédio pode ser armazenado ali.
Medicamentos de uso eventual, como analgésicos ou remédios para enjoo, não devem ser colocados na caixinha. Fora da embalagem original, não há como saber qual é o comprimido, nem se ele está vencido. Uma alternativa segura é recortar a cartela do remédio e colocá-la inteira no compartimento, preservando a identificação e a proteção.
Outro ponto importante é a limpeza das caixinhas, que deve ser feita com frequência. E, se houver crianças em casa, o cuidado precisa ser redobrado. “A retirada dos medicamentos das embalagens leva à descaracterização do produto, dificultando sua identificação e aumentando o risco de uso acidental ou equivocado”, explica Marina. “Essas caixas costumam ser visualmente atrativas, o que pode despertar o interesse das crianças.”
Hoje, com o aumento do uso contínuo de medicamentos, já existem empresas especializadas na organização dos comprimidos. Também há dispositivos eletrônicos que disparam alarmes e registram as doses tomadas, mas essas opções ainda têm custo elevado e não são acessíveis a todos.
No entanto, o valor do dispositivo pode impedir sua compra, pois o mesmo pode chegar a cerca de R$ 600.

Para Marina, a escolha da melhor forma de organizar os medicamentos deve ser feita com acompanhamento profissional. “A questão pode parecer simples, mas é complexa. Os problemas no uso dos medicamentos são uma das principais causas de falhas nos tratamentos.”
Ou seja: caixinhas de remédio não são vilãs, mas precisam ser usadas com responsabilidade. E sempre com orientação de um profissional de saúde.