Podemos troca Camilo por Paulinha na presidência (e PL por PSD no alinhamento)

O amplo sorriso de Paulinha, duplicado; o riso sem jeito de Camilo Martins; e o aspone de Renata Abreu fingindo que arbitra

Uma imagem vale por mil palavras, diz o ditado (que não pode ser explicado sem palavras, é claro). Observe, leitor, a foto que destaca o texto. Ela faz jus ao ditado.

As palavras seguintes são mera tentativa de interpretar a cena que mostra a deputada estadual Paulinha, sorridente (duplamente sorridente, se pensarmos na imagem dela mesma em painel de seu gabinete), assumindo a presidência estadual do Podemos no lugar do deputado estadual Camilo Martins, com a mão na cabeça, sem jeito. Ao centro como árbitro, o coordenador nacional do Podemos, Adriano Stefanni.

A presença do dirigente nacional era só para oficializar o que foi definido em reuniões de Paulinha e Camilo, separadas, com a presidente nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP). Assustada com a perda dos prefeitos eleitos pelo partido em 2020 e ainda chateada porque o partido não elegeu deputados federais em Santa Catarina nas eleições de 2022, a dona do partido decidiu mudar a titularidade da franquia catarinense.

Na arbitragem, representada na foto por Adriano Stefanni, Renata Abreu determinou a mudança de rumo, estabelecendo alguns limites à atuação de Paulinha. Camilo Martins e o também deputado estadual Lucas Neves terão direito a apontar os municípios que serão blindados da articulação da nova presidente. Este tratado de tordesilhas será desenhado esta semana pelos três na Assembleia Legislativa.

A mudança no Podemos tem um discurso em nível nacional e uma prática em nível estadual. O discurso, que faz sentido, é a necessidade que o partido tem, aos olhos da direção nacional, de eleger deputados federais. São eles que garantem fundo partidário, fundo eleitoral e minutos na horário eleitoral supostamente gratuito. Renata Abreu nunca assimilou a estratégia catarinense que fez em 2022 o Podemos eleger três deputados estaduais e nenhum deputado federal.

Paulinha, desde já, é pré-candidata a deputada federal em 2026. Camilo Martins quer a reeleição na Assembleia Legislativa. Ambos os caminhos fazem sentido dentro dos projetos de cada um, mas antagonizavam-se internamente. Especialmente porque Paulinha e Camilo enxergam que o futuro do Podemos de Santa Catarina é ser sublegenda. Mas, o “sublegenda de quem?” muda diametralmente.

Então, para o discurso nacional, aquele que é música para Renata Abreu, o Podemos será comandado por uma líder que almeja a Câmara dos Deputados. Para a prática estadual, a escolha entre Camilo e Paulinha é uma definição entre o PL dos bolsonaristas e do governador Jorginho Mello e o PSD do deputado estadual Júlio Garcia e do presidente estadual Eron Giordani.

Na lógica de Camilo, o Podemos ficaria escorado na popularidade de Bolsonaro e na máquina do governo estadual. Afinal, o 22 é grande, mas talvez não sirva de guarida para tantos interessados. Foi nessa lógica que o próprio Camilo colocou seu principal aliado, o prefeito de Palhoça, Eduardo Freccia, no PL. Melhor disputar a reeleição com o 22 do que contra ele, pensou o ex-dirigente.

Na lógica de Paulinha, o partido tem condições de ser o rosto direitista que o PSD precisa em municípios onde o jeito Gilberto Kassab de ser – nem esquerda, nem direita, nem centro, nem nada – não encontre eco no eleitorado. Além disso, o estilo da deputada estadual talvez faça mais sentido em um partido menor que ela controle do que em uma legenda maior, onde conflite.

Assim, olhando na prática, o Podemos mudou radicalmente de rumo sem mudar de destino. O destino era ser sublegenda. O rumo era PL ou PSD. Com Paulinha no comando, o PSD comanda o Podemos.



Foto – O amplo sorriso de Paulinha, duplicado; o riso sem jeito de Camilo Martins; e o assessor de Renata Abreu fingindo que arbitra. Crédito: Assessoria de Paulinha, Divulgação.

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