Por que não em Floripa? Por Israel Rocha

Por Israel Rocha

É curioso como abordamos as experiências internacionais e a forma que o debate é feito quando nos referimos ao que vem de fora versus ao que vem de dentro. Uns podem ser mais otimistas e acreditar que o bom exemplo visto no exterior pode ser replicado, outros talvez menos e olham para as especificidades locais com mais afinco. De fato, nenhum está errado. O grande desafio de observar referências internacionais e aprender com elas é o quão dispostos estamos em analisar de forma profunda e técnica.

Vivemos em um momento único na humanidade, no qual os grandes desafios são, muitas vezes, globais. O mundo enfrentou junto a pandemia e nossa capacidade de aprender com iniciativas internacionais foi fundamental, nos apoiando nas ciência e no que há de mais avançado. Nesse contexto não só aprendemos com o de fora, como fomos referência também, com o Instituto Butantã – por exemplo. Quando estamos expostos ao mundo, pouco nos importa o que nossos olhos conseguem enxergar, mas sim o real resultado das iniciativas que vemos. Isso funciona? Há acesso igualitário? Existe uma análise econométrica? Resolve um problema da maioria? Gera empregos? Quais evidências embasam essas iniciativas? Quando ficamos encantados com algo que vemos fora, esquecemos de analisar, de entender, estudar e discutir.

Como estudante de administração pública na universidade de Columbia, em Nova York, sou exposto diariamente a políticas públicas que dão certo mundo afora. E junto com colegas de mais de 150 países, debatemos, analisamos, estudamos e mergulhamos em números. Iniciativas como as placas solares em prédios públicos na Espanha, gestão de tráfego baseada em dados para melhorar a qualidade do ar em Copenhagen e combinação de múltiplas fontes de dados no gerenciamento automático de vazamentos de água na Dinamarca. Mas também, com orgulho vejo iniciativas brasileiras como a Rede Juntos que conecta gestores públicos, o uso do aplicativo Colab na gestão de demandas das cidade de Recife e Campinas, a gestão fiscal de Niterói-RJ e o Sistema Único de Saúde (SUS) sendo estudadas em uma das melhores universidades do mundo, na qual se formaram os ex-presidentes americanos Barack Obama e Theodore Roosevelt, o empresário Warren Buffett, e que passaram mais de 100 prêmios Nobel.

Imerso nesse ambiente, toda vez que analiso alguma política que muda a vida das pessoas eu me pergunto: Por que não em Floripa? Às vezes a minha resposta é que já temos algo melhor, outras que nos falta visão, referências, elencar prioridades, de sair dos achismos, do toma lá dá cá, e dos discursos fáceis. Mas isso não é uma questão particular de Florianópolis, mas de várias cidades pelo mundo. Por isso, aprender com os erros de fora tem tanto valor quanto com os acertos. Nesse sentido, uma frustração que compartilho com os colegas de todos os continentes, é como a polarização e o radicalismo político nos afasta de um debate prático – que discute os problemas e busca soluções possíveis.

É encantador sair do campus no fim de semana e ir para a Broadway assistir a tantas atrações culturais ou visitar museus com obras de artistas renomados, chegar em qualquer canto com metrô e ônibus elétricos, passear no Central Park. Mas nada é melhor do que trazer para casa o sonho de uma Florianópolis moderna, do PACUCA acontecer no Campeche, de nos adaptarmos para uma cidade carbono neutro e tantas outras ideias. Um manezinho da ilha na Big Apple não pode querer outra coisa senão trazer o mundo pra dentro de Floripa. Então, aproveitem o recesso e andem por aí, explorem, dentro e fora de Florianópolis, observando os bons e os maus exemplos. Com semelhanças e diferenças sempre podemos aprender, basta estarmos dispostos a ir além da superficialidade. 



Israel Rocha é Bacharel em Direito pela UFSC e mestrando em Administração Pública e Finanças Internacionais na Universidade de Columbia (Nova York)

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