Primavera no campo, tempestade em Brasília

A chegada da primavera não é só poesia: é fator decisivo para a qualidade da produção agrícola. Depois de um inverno seco, a nova estação traz de volta as chuvas que vão ditar o ritmo da safra de verão 2025/26.

O florescer que vale milhões

Em Santa Catarina, os dias de frio intenso ainda podem aparecer no Planalto Sul, mas logo dão lugar ao calor que impulsiona o ciclo da fruticultura — maçã, banana e maracujá — além de reforçar a força da soja, dos suínos e das aves que fazem do estado, referência nacional.

É a natureza abrindo espaço para a produtividade, enquanto Brasília insiste em abrir espaço para a discórdia e o aumento de impostos.

Brasília na contramão

Enquanto o campo celebra a renovação, o relator da MP 1.303, deputado Carlos Zarattini, resolveu semear uma ideia bem menos fértil: taxar em 7,5% os rendimentos de LCAs e LCIs.

Na reunião almoço de ontem, onde estivemos presentes, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion, não deixou barato: “não vamos aceitar”. Para o setor, taxar crédito do agro é como regar lavoura com gasolina. O campo precisa de financiamento para girar a engrenagem, e não de Brasília testando novas formas de sangrar investimentos.

Letras do Agro

O relatório à MP que traz as novas regras de tributação sobre aplicações financeiras e ativos virtuais seria apresentado ontem à Comissão Mista, mas a apresentação foi adiada para hoje, 24.

Inicialmente, a MP previa tributação de 5% sobre os rendimentos gerados a partir de LCI, LCA, CRA, CRI e debêntures incentivadas a partir de 2026. Hoje, esses títulos são isentos de tributação no rendimento de pessoas físicas.

O mais provável é votar o relatório na terça-feira que vem, 30, na comissão. Ainda não há data para ir a plenário.

O vizinho joga pesado

Já na Argentina, Javier Milei decidiu zerar, até outubro, os impostos de exportação sobre grãos, carnes e oleaginosas. A jogada é clara: empurrar 20 milhões de toneladas de soja estocada para o mercado externo, turbinar reservas e, de quebra, bagunçar a competitividade brasileira. O reflexo foi imediato em Chicago: soja em queda e prêmio nacional murchando. No tabuleiro internacional, quem sorri é o produtor argentino — e quem sua na lavoura, é o brasileiro.

Química Excelente

No palco da ONU, Donald Trump disse que teve ‘química excelente’ com Lula e afirma que os dois se reunirão na semana que vem.

Milei, por sua vez, já colhe o apoio do republicano para segurar a crise cambial em Buenos Aires. No meio desse trio barulhento — Milei, Trump e Lula — o agro brasileiro entra como trunfo e também como alvo. Todos sabem que sem ele não há saldo comercial, nem discurso de prosperidade que se sustente.

Colheita de tempestades

Enquanto o campo floresce ao ritmo da primavera, Brasília insiste em inventar um outono para o agro. O problema é que, diferente das estações, a mania de taxar não passa. Lá fora, Milei e Trump jogam xadrez com soja e tarifas; aqui dentro, Lula tenta vender otimismo entre elogios improvisados e MP engasgada.

O campo? Esse segue plantando, faça chuva ou faça sol, com ou sem taxação. Já a política, essa parece cada vez mais especializada em colher tempestades.

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