O publicitário e produtor de conteúdo audiovisual Marcel Guariglia, 45 anos, está percorrendo 50 mil quilômetros de carro com o objetivo de conhecer práticas sustentáveis. Ele vai passar por 18 países. A viagem começou no dia 18 de março pelo Ushuaia, na Argentina, com destino ao Alaska, que fica no extremo norte das Américas. É a “Jornada ESG: Descobrindo Sustentabilidade no Sul do Brasil”.
Guariglia passou por Santa Catarina, onde conheceu cinco iniciativas ligadas, de alguma forma, aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Foram quatro projetos em Florianópolis e um deles em Itajaí. Na capital catarinense, Guariglia conversou com a coluna sobre a aventura.
Como começou a Jornada ESG?
Nos últimos cinco anos me dediquei a estudar sobre sustentabilidade. E comecei a desenvolver o projeto de uma expedição sobre iniciativas sustentáveis em toda a rota. O propósito é desmistificar o ESG, mostrar a relação com o mercado e também com os 17 objetivos da ONU. Para atender esse objetivo, criamos três entregas de conteúdo principais: o diário de bordo para mostrar o que encontramos de sustentabilidade no caminho, conteúdos técnicos nossos e também a visão dos especialistas. Ao todo, vamos visitar mais 100 negócios de impacto.
Como chegaram a esses projetos?
Fizemos uma curadoria que envolveu mais de 300 projetos, buscando a relevância da iniciativa diante dos principais desafios de cada região. Desses, selecionamos 100, de tamanhos e abrangências diferentes. Temos ONGs, empresas bilionárias, iniciativas, projetos, especialistas. Um pouco de tudo.
O que pode destacar de positivo sobre o que viram nessa fase inicial da jornada?
Ficamos muito felizes quando vemos cidades e comunidades que têm articulação público-privada, com engajamento da comunidade. Percebemos várias iniciativas nesse sentido e a gente acredita que é a forma mais efetiva. Muitas vezes as ações são impulsionadas pela sociedade, por uma geração mais consciente, muitas vezes a iniciativa privada é que puxa essa agenda. Mas o importante é ter esse tripé – sociedade, iniciativa privada e articulação governamental.
A população, de modo geral, está familiarizada com o conceito ESG e sobre o que a sigla representa?
Muitas empresas ou pessoas, às vezes, têm uma perspectiva limitada ao entender que a sustentabilidade está vinculada só aos resíduos, à gestão hídrica e também às mudanças climáticas. É muito mais abrangente do que isso. A gente fala de desafios sociais e o Brasil tem enormes nesse sentido. O brasileiro tem que entender o principal desafio do país, que é o social, para depois falar de água, de preservação de florestas e do mercado de carbono. Essas coisas têm que caminhar juntas. E quando a gente fala de ESG, é exatamente para trazer a consciência de que o ambiental não vai avançar se não se desenvolver bem o social
A sigla, no entanto, ainda não está ao alcance das pessoas. Eu entendo que ganhou atração pelo viés econômico. O mercado todo teve que adequar aos pilares pelo viés econômico, porque afeta, por exemplo, o valor das empresas e as linhas de crédito internacionais. Só que nesse processo a gente viu o crescimento de narrativas equivocadas, empresas que se diziam sustentáveis para se posicionarem dessa forma e, então o cerco começou a se fechar, aparecem novas regulamentações, bolsas de valores tiveram que recuar e rever suas regras etc.
Então, a partir de agora o mercado está ganhando uma maturidade ESG, que está mais associada a buscar o equilíbrio entre o viés econômico e o propósito do que só se vender para o mercado. Exatamente nesse momento a jornada pode ser útil para trazer conscientização do que é ser ESG. Não é se posicionar de uma forma para o mercado e ter uma boa relação econômica. É realmente falar sobre qual a relação que a empresa tem como o meio ambiente, com o entorno em que atuo e qual a relação com a sociedade. A gente chega num momento de desmistificar a sigla, mostrar a relação om o mercado, mas principalmente com os 17 objetivos da ONU.