Quando o agro é punido lá fora, estrangulado no crédito e testado na imagem, são justamente ciência, tecnologia, cooperativismo e verdade que salvam

Tarifas lá fora, crédito travado aqui dentro — entre aplausos internacionais, tarifaço americano e decisões adiadas em Brasília, o agro segue produzindo e dando exemplo de inovação, produção e cooperativismo.

Do tarifaço americano à soberania da maçã catarinense, o campo mostra força ao celebrar a liderança na produção e comemora o cooperativismo, enquanto Ituporanga discute trabalho digno e a Embrapa recebe lá fora, um “Nobel da Agricultura”.

O Brasil exporta força, mas ainda importa contradição.

Tarifaço: golpe em câmera lenta

Levantamento do FGV Ibre mostra que Minas Gerais lidera as perdas em dólares nas exportações para os EUA. Santa Catarina vem logo atrás, com quase US$ 96 milhões (R$ 515 milhões) a menos em um ano.

O estudo analisou as exportações brasileiras para os EUA em setembro de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

O tarifaço imposto por Donald Trump atinge metalmecânico, têxtil, suínos e frango — setores estratégicos catarinenses. Quem taxa o que gera emprego entrega mercado ao concorrente.

Crédito travado, produtor sem ar

A Farsul confirma: vivemos a maior crise de crédito rural desde o Plano Real. Recursos para custeio caíram 23%, investimentos despencaram 44% e a inadimplência bateu recorde.

Mesmo com o anúncio dos R$ 12 bi para renegociação, o dinheiro ainda não chegou. O Sicor atrasou. Seguro rural continua travado. E o campo não opera em modo promessa.

O Banco do Brasil informou que deu início ontem, 21, à contratação de operações no âmbito da MP 1.314/25 — com recursos livres. Ou seja, da própria instituição. Segundo a assessoria da instituição, a regularização de operações com o uso de recursos subsidiados pela União deverá iniciar até esta sexta-feira, 24. A data exata não foi divulgada, assim como as taxas das operações com fonte de recursos livres.

O agro não pede favor. Pede execução.

Maçã brasileira tem sotaque catarinense

Ontem, 21, foi Dia Internacional da Maçã e Santa Catarina tem muito o que comemorar: segue líder absoluta nacional, com quase 50% da produção, puxada por São Joaquim, que é o maior produtor municipal do país, respondendo sozinho por mais de 40% da produção nacional. O estado tem aproximadamente 3 mil produtores envolvidos diretamente na atividade.

E a Associação dos Produtores de Maçã e Pêra de Santa Catarina (AMAP) precisou corrigir um programa de repercussão nacional, que creditou o título de maior produtor, ao vizinho Rio Grande do Sul. A nota reafirma o óbvio: a maçã brasileira tem sotaque catarinense — e excelência comprovada.

A presidente da AMAP, Sheila Zanete, ressaltou também que a data é um momento importante para valorizar todo o setor.

“Vale destacar a importância da Produção de Maçã no Estado de Santa Catarina. Tendo em vista que é um estado que investe em tecnologia e pesquisa, para que a produção nacional desponte na qualidade do fruto. Somos o estado referência na produção”.

Cooperação em campo

A região do Alto Uruguai Catarinense se prepara para ser a capital do cooperativismo em Santa Catarina, com a realização de importantes eventos em Itá e Concórdia, entre os dias amanhã, 23 e sexta-feira, dia 24. Esses eventos reúnem mais de 2.000 pessoas do setor cooperativista, com atividades que incluem reuniões, comissões e competições esportivas. O setor cooperativista catarinense, reconhecido pela sua força e integração, tem sido um dos pilares do desenvolvimento da economia rural do estado.

O evento deste ano, sediado em Concórdia, é organizado pela Copérdia e conta com o apoio do Sistema Ocesc–Sescoop/SC.

Santa Catarina decide, planeja e entrega.

Trabalho Legal na Cebola

Na cidade de Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí, acontece hoje, 22 de outubro, a audiência pública sobre as boas práticas trabalhistas, com foco na cadeia produtiva da cebola.

Este evento busca consolidar parcerias para a regularização das contratações de mão de obra no setor e é organizado pelo FETP/SC, envolvendo diversas instituições públicas e privadas.

Nesse sentido, o projeto “Trabalho Legal na Cebola” também vem colhendo resultados expressivos com o projeto “Contratação de Mão de Obra Legal na Cebola”, desenvolvido pelo Sebrae, FAESC e Senar/SC.

O levantamento mais recente mostra que 86% dos produtores participantes já contam com serviços de contabilidade e/ou RH habilitados para conduzir contratações e cálculos trabalhistas, enquanto 90% das propriedades apresentaram melhorias significativas nas condições de trabalho e segurança.

Fazendo o certo

De acordo com Ana Paula Rosenbrock, gestora de projetos do Sebrae de Rio do Sul, o sucesso da iniciativa reflete o engajamento dos produtores e a importância do acompanhamento técnico constante. “O produtor rural quer fazer o certo, mas muitas vezes não tem clareza sobre todos os critérios exigidos. O projeto vem justamente para orientar, apoiar e mostrar que é possível produzir com responsabilidade e dentro da legalidade”, destacou.

O projeto também contou com a participação fundamental do Sindicato do Produtor Rural de Ituporanga. Segundo o presidente, Arny Mohr, que também é produtor de cebola e aderiu à iniciativa, a proposta está transformando a realidade do campo. “Os produtores estão engajados, querendo mudar o cenário da nossa região. O Sebrae veio para mostrar que podemos nos adequar”, afirmou.

Os resultados do projeto consolidam um novo padrão de boas práticas no campo, fortalecendo a imagem da cebolicultura catarinense e estimulando a continuidade de ações que unem produtividade, segurança e legalidade no meio rural.

Ciência brasileira no topo

Também amanhã, 23, a pesquisadora da Embrapa Soja, Mariângela Hungria, recebe nos EUA o World Food Prize — o “Nobel da Agricultura”. A ciência pública brasileira segue sendo celebrada primeiro lá fora, depois aqui dentro.

Locomotiva Nacional

Enquanto o mundo reconhece a ciência brasileira e o campo catarinense floresce em produtividade, cooperação e organização, o país segue tropeçando na falta de crédito e na insegurança política e jurídica.

O agro brasileiro continua sendo a principal locomotiva nacional — só falta lembrar ao maquinista que não se chega a lugar algum, puxando o freio de mão.

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