O problema não foi o PSG. Foi o “reflexo” que o Flamengo colocou diante dos outros times

Há jogos que não cabem na súmula. Eles não terminam no apito final. Ficam. Pairam. Voltam quando ninguém chama. Flamengo x PSG foi assim. Uma partida que pede menos placar e mais divã. Menos estatística, mais confissão.
Reduzir a final a “apenas” uma Copa Intercontinental é defesa emocional. Quando um clube brasileiro se aproxima do topo europeu, o discurso se encolhe. O mérito vira detalhe. A coragem vira exagero. A exceção vira incômodo.
O Flamengo não venceu o Mundial. É verdade. Mas há derrotas que ampliam fronteiras. Enfrentar, de igual para igual, uma engrenagem bilionária montada para vencer sempre não é acaso. Não é sorte. Não é milagre. É construção. É tempo. É escolha. O Flamengo já não entra em campo para pedir licença. Entra para disputar espaço.
Desde 1992, quando a Champions League inaugurou outra era, nenhum clube brasileiro esteve tão perto do nível europeu. O São Paulo de Telê dialogava com Barcelona e Milan, mas ainda respirava um futebol anterior ao atual totalmente dominado pelo dinheiro. Hoje, competir já é um gesto de resistência. Disputar, um privilégio. E o Flamengo disputou.
O problema começa quando o jogo acaba. Porque o avanço de um expõe a imobilidade de muitos. O abismo cresce em silêncio. Flamengo e Palmeiras já jogam em outro ritmo, enquanto o restante insiste em desafinar com instrumentos velhos. Se nada mudar, o Brasil corre o risco de repetir a Espanha: poucos disputam, muitos assistem, quase ninguém sonha.
Não é culpa de quem correu. É responsabilidade de quem estacionou. Gestões frágeis, projetos improvisados e amadorismo travestido de tradição não resistem a um futebol cada vez menos romântico. O Flamengo não é um ponto fora da curva. É a curva.
A final contra o PSG deve ser exaltada. Não pela ausência do título, mas pelo recado que deixa. Quando poucos jogam e muitos apenas assistem, a bola até rola, mas a paixão já não acompanha. A torcida deixa de ser pelo próprio clube e passa a existir apenas para que o outro perca. O espelho está posto. O reflexo, exposto.





