
Ex-primeira-dama de Santa Catarina, Késia Martins da Silva sempre esteve ligada ao voluntariado e ao incentivo à participação feminina na política. Agora, enfrenta o maior desafio de sua trajetória: o tratamento de um câncer de mama detectado em estágio inicial.
Entre consultas e sessões de prevenção, ela transformou a própria vivência em bandeira pública, usando sua voz para fortalecer a importância do diagnóstico precoce, compartilhar informação e oferecer apoio a outras mulheres.
Na entrevista exclusiva à coluna, ela fala sobre fé, família, políticas públicas e o papel do companheiro — o ex-governador Carlos Moisés — neste processo.
Você sempre fez acompanhamento médico e exames preventivos. Como recebeu o diagnóstico?
Sempre levei a sério meus exames anuais, fazia mamografia e ultrassom regularmente. A gente vinha acompanhando alguns nódulos, tudo sob controle. Até que, no início deste ano, apareceram alterações. A mastologista me encaminhou para todos os exames e logo depois para a cirurgia. Só ali soubemos que o linfonodo estava livre.
Segundo a doutora Clarissa Amaral, já estou curada — a cirurgia retirou tudo. O tratamento agora é preventivo: quimioterapia, terapia-alvo e bloqueio hormonal pelos próximos cinco anos.
O impacto inicial foi grande?
Foi de tristeza, não de desespero. A gente pensa logo na morte. Mas depois me dei conta: novidade nenhuma, todos nós vamos morrer. O câncer me trouxe um processo de transformação — comigo, com minha família e com os amigos.
E a fé, tão presente na sua vida?
A fé me sustentou desde o primeiro momento. Minha conversa com Deus foi sincera: eu não queria isso agora. Mas entendi que não se trata apenas de cura, e sim de processo. A fé me deu serenidade para enfrentar.
Você tem falado bastante sobre atividade física. Por quê?
Porque virou parte do tratamento. Meus médicos dizem que é 50% dele. Sempre fiz exercício de forma irregular, mas agora virou rotina. Me inscrevi na corrida Movimento Rosa, em 19 de outubro, justamente para ter um compromisso e não desistir. Descobri que a atividade física ajuda tanto na saúde física quanto na saúde mental.
O vídeo do corte do cabelo feito pelo ex-governador emocionou muita gente. Como foi esse momento?
Eu não sofri com a queda do cabelo. Usei a touca por insistência médica, mas quando ele começou a cair em pedaços, decidi cortar. Pedi para o Moisés fazer isso comigo. Foi simbólico. Mostrou que a gente enfrenta junto.
Esse apoio familiar tem sido fundamental?
Com certeza. Ninguém se cura sozinho. O apoio do marido, das filhas, dos amigos, é fundamental. O câncer trata o paciente e trata também todo mundo ao redor.
Você sempre esteve ligada à política, ainda que nos bastidores. O que esse momento lhe mostrou em termos de políticas públicas para as mulheres?
Mostrou o óbvio: política está em tudo, inclusive na saúde. É urgente investir em políticas públicas de prevenção, diagnóstico e tratamento. E tem um ponto delicado: muitas mulheres são abandonadas pelos maridos quando adoecem, porque deixam de ser cuidadoras e passam a precisar de cuidado. Isso também é violência. Precisamos de políticas que amparem essas mulheres.
E quanto à política partidária? Haverá algum papel seu em 2026?
Sempre fui parceira do Moisés e continuo sendo. Mas protagonismo nunca foi meu perfil. Agora a prioridade é saúde. Depois, o futuro a gente conversa.
Se pudesse voltar no tempo, mudaria algo?
Capricharia mais na atividade física. Não porque evitaria o câncer, mas porque teria me dado mais disposição para enfrentar cirurgia e quimioterapia.
Exercício prepara para a vida — seja para o envelhecimento, seja para a doença.
Qual a principal mensagem que você quer deixar?
Que prevenção salva e culpa não trata ninguém.
O câncer é resultado de fatores como idade, hormônios, estresse, estilo de vida. Não é “falta de perdão” ou problema mal resolvido.
Precisamos falar de informação, acolhimento e prevenção.
Entre as Onco Friends, temos um ditado: “Quem procura, cura”.







