Reno Caramori, o eleitor e o colírio

Reno Caramori em ilustração de Galvão Bertazzi

Tenho tantas histórias com o ex-deputado estadual Reno Caramori que dariam um livro. Trabalhei com ele em cinco campanhas. Quatro de deputado estadual, onde foi vencedor, e uma de prefeito de Caçador, quando amargamos uma derrota por nove votos.

Reno Caramori fazia suas campanhas na rua, nos botecos, nas festas, nas casas, buscando contato direto com o eleitor. Esse sempre foi o seu jeito e numa época em que ainda não havia mídias sociais. Era no olho no olho.

Por ser da família Caramori, proprietária da empresa de transporte Reunidas, que já foi uma das maiores do país, os eleitores que gostam de uma vantagem o enxergavam como um potencial contribuinte. Só que a realidade era outra.

À exceção da primeira eleição, em 1990, as campanhas eram franciscanas, com a grana curta. Os primos ricos da Reunidas só entravam com o necessário para as despesas essenciais. E nós corríamos o Estado, pedindo os votos.

Os tempos eram outros e o Reno Caramori sempre teve um coração maior que ele. Acabava caindo em muitas “mordidas” de eleitores, o que dificultava ainda mais a parte financeira da campanha. Afinal, o seu estilo era de contato direto com o público, o que facilitava em muito as abordagens dos aproveitadores.

Ele gosta de contar essa história e tentarei ser fiel às suas palavras.

Numa dessas campanhas, o eleitor chegou e foi pedindo:

Deputado, preciso de uma passagem de ônibus para visitar a minha mãe que está doente em Curitiba.

Impossível. A Reunidas está muito fiscalizada e se dermos uma passagem para alguém, cai a fiscalização em cima e estamos ferrados – respondeu Reno.

Então me arruma um dinheiro, que dou um jeito na passagem – insistiu o eleitor.

Não posso te dar dinheiro. Se alguém me flagrar entregando um dinheiro para você, vai me denunciar por compra de voto. Vou ser preso e ter a candidatura cassada – justificou o deputado.

Nisso, o eleitor viu um volume no bolso da camisa do deputado Reno e imaginou ser uma carteira de cigarros:

Não tem passagem, não tem dinheiro, pelo menos me dê um cigarro.

Não tenho cigarro. Faz mais de dez anos que parei de fumar – rebateu Reno Caramori.

Então, o que é isso no seu bolso? – voltou a questionar o eleitor.

É uma caixinha com um vidro de colírio.

Já que não pode me dar nada, pelo menos pingue umas gotas desse colírio aqui nos meus olhos… – encerrou o “debate” o eleitor.

E vocês pensam que a vida dos candidatos é fácil. Mas assim era o Reno, que se elegeu deputado estadual em Santa Catarina por seis vezes e foi prefeito de Caçador uma vez, completando 30 anos de mandatos eletivos.


Ilustração: Galvão Bertazzi.

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