
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que escolheu uma “mulher bonita”- referindo-se à ministra Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais – para diminuir a distância entre os Poderes Executivo e Legislativo.
E cá estou, novamente no fio da navalha.
Escrevendo mais uma coluna sobre comunicação e correndo o altíssimo risco de que ela seja interpretada à luz de ideologias e elocubrações morais.
Em minha defesa:o assunto em questão não é o suposto machismo do presidente Lula. Eu não faço juízo de valor, embora ele tenha um longo histórico de declarações infelizes sobre as mulheres.
E, convenhamos, é natural que as pessoas interpretem e julguem de forma negativa as declarações do presidente. Comunicação não é exatamente o que a gente fala e sim como o receptor da mensagem interpreta.
Minha abordagem está centrada exclusivamente nos riscos do improviso em discursos públicos.
E, para equilibrar, incluo no debate o outro grande líder político do país e também contumaz cometedor de gafes, Jair Bolsonaro.
Se ambos, ele e Lula, são vítimas frequentes de arroubos verbais, por que continuam cometendo os mesmos erros?
A (minha) resposta está ao final da coluna.
O improviso em falas públicas é uma armadilha que pode levar a gafes que comprometem a imagem e a credibilidade de líderes políticos.
Mas, afinal, o que é um discurso improvisado?
É quando alguém fala em público sem planejamento e reflexão sobre um assunto, aumentando a probabilidade de erros factuais, declarações inadequadas ou mensagens confusas.
Declarações improvisadas produzem três grandes riscos:
Em primeiro lugar perda de credibilidade, minando a confiança no líder.
Outro aspecto negativo é a repercussão midiática, afetando negativamente a imagem pública. Os memes estão aí pra isso.
E, finalmente, impacto político. Elas podem ser exploradas por adversários.
Se as gafes são tão nocivas, como evitá-las?
É simples e óbvio, embora a obviedade muitas vezes seja difícil de enxergar.
É preciso preparação e treino antes de se falar qualquer coisa em público.
Inicialmente, preparação técnica para desenvolver habilidades de comunicação verbal, não verbal e vocal.
Em seguida, profundo conhecimento sobre o assunto. Pesquisar e levantar todas as informações possíveis. Dominar um assunto evita ansiedade e insegurança na hora de falar.
E agora, a resposta à pergunta acima: por que Lula e Bolsonaro insistem no improviso com tantos “efeitos colaterais”?
Ambos são políticos extremamente personalistas que não gostam de ser contrariados. A propósito, politicamente estão em polos opostos, mas são muito parecidos em alguns aspectos.
Ambos são cercados por puxa-sacos e faltam-lhes assessores de VDM (Vai Dar Merda).
Lula e Bolsonaro fazem parte parte de uma categoria de políticos praticamente em extinção.
No entanto – e que fiquem espertos – está surgindo uma nova geração de líderes que estudam e se preparam.
Ok Fred, mas um discurso assim, muito planejadinho, não mata a espontaneidade da mensagem?
Claro que não! Existe o improviso “do bem”, como mencionar alguém da platéia, contar uma história que venha à mente e outras intervenções que não tenham sido previstas.
Mas a estrutura básica, o início/meio/fim do discurso deve ficar pronto e mentalizado (ou escrito) previamente.
Planejamento e organização não são incompatíveis com autenticidade, o principal atributo de um discurso.
Mas essa é uma outra história.
Imagem gerada por IA.