O secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., anunciou na última quinta-feira (10) um ambicioso plano para descobrir, até setembro, as causas do aumento das taxas de autismo no país. A declaração foi feita durante uma reunião de gabinete conduzida pelo presidente Donald Trump, que respondeu à fala com entusiasmo: “Não haverá uma coletiva de imprensa maior do que essa”.

Kennedy prometeu reunir “centenas de cientistas de todo o mundo” em uma força-tarefa de testes e pesquisas. Segundo ele, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) liderarão a iniciativa, e o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) divulgará em breve novos dados apontando que o autismo já afeta 1 em cada 31 crianças americanas.
A proposta, no entanto, foi recebida com forte ceticismo por parte da comunidade científica. Pesquisadores alertam que não há respostas simples ou imediatas para uma condição tão complexa, cuja origem envolve múltiplos fatores genéticos e ambientais — como exposição a pesticidas, poluição do ar, infecções na gravidez e substâncias químicas em plásticos.

“É muito difícil para mim imaginar que algum avanço profundo possa ser feito entre agora e setembro, especialmente diante dos cortes de financiamento federal”, afirmou o pediatra e especialista em toxinas ambientais Philip Landrigan, referindo-se aos bloqueios orçamentários impostos ao próprio Departamento de Saúde sob comando de Kennedy.
A cientista Irva Hertz-Picciotto, referência internacional em epidemiologia ambiental ligada ao autismo, também reagiu: “Tenho buscado causas há 20 anos. Que isso possa ser resolvido até setembro é ridículo”.
O anúncio reacende debates antigos sobre as posições de Kennedy, notório por sua oposição a vacinas. Em entrevista à Fox News, ele mencionou que o estudo incluirá comparações entre crianças vacinadas e não vacinadas — abordagem já amplamente refutada pela comunidade médica. Pesquisadores apontam que pais que vacinam seus filhos tendem a ter maior acesso ao sistema de saúde e, por isso, mais chances de obter diagnósticos.
O plano de ação também conta com apoio da recém-criada Comissão Make America Healthy Again (MAHA), formada por nomes como Linda McMahon (secretária de Educação) e Russell Vought (diretor do Escritório de Gestão e Orçamento), nenhum deles com formação em ciência ou medicina. A comissão foi estabelecida por ordem executiva e tem 180 dias para apresentar um plano de ação sobre ameaças à saúde infantil.
Para muitos cientistas, o esforço pode até trazer visibilidade ao tema, mas prometer resultados definitivos em menos de seis meses é precipitado e arriscado.
“O campo está avançando, mas com seriedade e rigor. A ciência real leva tempo”, resumiu Hertz-Picciotto.