Sem seguro, sem crédito, sem produção: o círculo vicioso do campo

“O seguro rural virou gargalo estrutural do crédito agrícola.”

Entra safra, sai safra, e o debate é sempre o mesmo: quem planta continua exposto ao risco climático e o seguro, que deveria ser ferramenta de previsibilidade, virou loteria.

No papel, todos defendem o produtor. Na prática, ninguém assina o cheque. O governo diz que vai reformular o modelo. O Congresso diz que vai pressionar. O produtor diz: “Eu preciso garantir renda, não discurso.”

Seguro rural deveria ser política de proteção, não tese de seminário. Sem seguro, não existe crédito sustentável. Sem crédito, não existe produção. Sem produção, não existe comida. Seguro rural não pode ser promessa. É sobrevivência!

Governo quer seguro obrigatório

O ministro da Agricultura e Pecuária (MAPA), Carlos Fávaro, defende que o seguro rural se torne despesa obrigatória do orçamento e que quem pega crédito subsidiado deve, obrigatoriamente, contratar seguro.

“Seguro rural não pode mais ser opcional: ele deve estar vinculado ao crédito”, afirmou Fávaro.

A lógica do governo é clara: se o produtor tiver seguro, o Tesouro para de bancar renegociação de dívida todo ano. O custo da política pública migra do Estado para o contrato de seguro.

Seguro que não segura

Nos bastidores, o governo admite que o seguro rural “não cumpre mais sua função de forma eficaz”.

Entre 2020 e 2023, houve mais de R$ 18 bilhões em renegociação de dívidas rurais. Seguro não é mais proteção, virou pós-plantio de crise.

O contraponto político

A senadora Tereza Cristina, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), defende que o país adote seguro de renda, não apenas cobertura de perdas.

“O seguro tem que garantir renda ao produtor. Se não houver renda, não há produção.”

Ela propõe criar um fundo catastrófico, nos moldes dos Estados Unidos, permitindo antecipar indenizações e evitar quebradeira.

Diagnóstico de mercado: vai piorar

A CNseg — Confederação Nacional das Seguradoras projeta que o seguro rural vai recuar 2,7% em 2025.

A CNA — Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil confirma o cenário: produtores enfrentam dificuldade para contratar apólices e seguradoras recusam áreas de risco.

Na prática, o produtor entra sozinho no campo.

Se perder, perde sozinho.

Sorgo — Santa Catarina troca dependência por estratégia

A Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (Sape) iniciou uma nova etapa do projeto que integra o Programa Terra Boa 2025/2026: o Projeto de Incentivo ao Cultivo de Sorgo Granífero Destinado à Produção de Grãos para Fabricação de Ração.

A iniciativa já está em vigor e tem objetivo direto: ampliar a produção de grãos em Santa Catarina para reduzir o déficit da fabricação de ração destinada às cadeias de suínos, aves e leite – setores que fazem do estado um protagonista nacional.

O programa envolve:

– FECOAGRO – Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina;

– Cooperativas e casas agropecuárias;

– Assistência técnica e acompanhamento do cultivo.

Santa Catarina é líder em proteína animal, mas importa mais de 4 milhões de toneladas de milho por ano para alimentar seus plantéis.

Sorgo não é substituto. É estratégia de autonomia.

Shutdown dos EUA: alívio para o campo

O fim do shutdown nos Estados Unidos destrava o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e retoma a divulgação dos relatórios que balizam preços globais de soja e milho.

Mercado sem USDA é mercado no escuro.

Com o relatório, volta a previsibilidade.

CAR obrigatório e sem novela

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) agora é condição para acessar crédito rural, conforme resolução do Conselho Monetário Nacional.

A regra já está em vigor para o Plano Safra 2025.

Sem CAR validado, não há financiamento.

Também é exigido para:

– Adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA),

– Linhas via BNDES,

– Entrada em programas de rastreabilidade e crédito de carbono.

Não é mais burocracia. É requisito.

Cooperativismo que funciona

Entre 24 e 27 de novembro, a Cooperja – Cooperativa Agroindustrial de Jacinto Machado (SC) realiza quinze Pré-Assembleias com cooperados, em duas regiões:

Rio Grande do Sul:

Santo Antônio da Patrulha, Viamão, Guaíba e Pirataba.

Santa Catarina:

Araranguá, Jacinto Machado, Urussanga, Criciúma, Santa Rosa do Sul, Treze de Maio, Praia Grande e Siderópolis.

Essas reuniões são preparatórias para a Assembleia Geral Ordinária (AGO), programada para meados de fevereiro, no Campo Demonstrativo Cooperja (CDC), em Jacinto Machado. 

O objetivo é orientar e engajar os cooperados para uma participação ativa na AGO, fortalecendo o vínculo entre cooperativa e cooperados. Como muitas reuniões ocorrem simultaneamente, a direção da Cooperja se divide para garantir presença em todos os locais. 

Governança não é moda: é democracia econômica em funcionamento!

No fim, é o cooperativismo que mostra o caminho: enquanto Brasília discute o seguro que não protege, cooperativas seguem garantindo previsibilidade, renda e pertencimento.
O seguro pode até falhar, mas quando o cooperado se organiza, o campo não quebra  ele resiste e cresce junto.

É a força coletiva que transforma incerteza em sustentabilidade.

Os colunistas são responsáveis pelo conteúdo de suas publicações e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Upiara.