Aureo Moraes escreve artigo sobre os sete anos após a prisão do Reitor Luiz Carlos Cancellier, marcada por, segundo escreve, violência policial e condenação pública sem provas, o processo ainda não teve desfecho. O autor defende o arquivamento do caso e a reparação pelo Estado brasileiro.
Sete anos atrás, numa quinta-feira, 14 de setembro, por volta das 07 horas da manhã, fui despertado por chamadas ao telefone. Eram jornalistas– sim foram vários – questionando-me quanto à prisão do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, o Cau.
Eu fiquei incrédulo com todas as ligações. Afinal tinha estado com o Cau até o início da noite anterior, quando nos despedimos afetuosamente no campus da UFSC, minutos antes de ele comandar a última sessão de colação de grau que presidiu. Havíamos adiantado, na última conversa, as providências para o dia seguinte e, portanto, nada indicava minimamente que, horas depois, ele e mais seis colegas estariam sendo conduzidos pelo superestimado aparato da Polícia Federal.
Em casa, tão logo acordavam, eram retirados, sem qualquer explicação ou justificativa, e por meio de uma ação truculenta de agentes, vestidos e armados para a guerra. Os minutos e horas que se seguiram foram eternos e cortantes. Sem poder falar com ele e os demais presos, sem qualquer explicação plausível, estávamos todos e todas da equipe do Reitor chegando às pressas à UFSC naquele início de manhã. A totalidade das pessoas com a mesma sensação de que o que ocorrera não encontrava a menor razoabilidade e sentido.
Daqueles instantes até o dia seguinte, quando todos foram liberados por outra Juíza que não a que os havia mandado prender, seguíamos atordoados, confusos, buscando identificar afinal, por quê? Àquela altura, porém, o desfecho estava longe de ocorrer. Mesmo soltos, estavam marcados para a vida pelas horas sofridas na condenação sem sentença, encarcerados pela absurda proibição de ir à Universidade. E violentados pelo escandaloso tribunal público, presidido pelos agentes do Estado (CGU, MPF, PF e Justiça Federal), com a repercussão leviana e irresponsável da mídia. Ali, nas palavras do próprio Cau, sua morte foi decretada. Ele só nos deixou, de fato, em 02 de outubro. Mas sua presença já nos havia sido arrancada no início da operação, naquele 14 de setembro de 2017. A sua lembrança nos inspira até hoje e sua memória nos acompanha.
Sete anos se passaram sem que o famoso inquérito tenha levado a consequências efetivas. Erraram gravemente todos aqueles agentes à frente do processo. E, sem quaisquer provas contundentes, não sabem mais como sair da armadilha que eles mesmos criaram. Pois que arquivem e extingam o mal-ajambrado processo. E que o Estado brasileiro, em nome da Justiça, promova a devida reparação.
Aureo Moraes é professor na UFSC e foi Chefe de Gabinete do Reitor Cancellier.