Sextou, mas não para o produtor catarinense. Enquanto o resto do Brasil pensa em cerveja gelada, Santa Catarina serve leite quente na mesa das discussões – e não é por escolha gastronômica.
Entre o leite que ferveu na panela da Alesc, a cevada que promete recorde e o antifacção que empacou em Brasília, Santa Catarina segue fazendo o que sabe: trabalha, produz, debate e exigi respeito.
A crise no setor leiteiro virou pauta prioritária no Estado e em Brasília.
Se preferir um chimarrão para acompanhar, peça para a Ketrin: ela já está com o mate na mão e o gravador na outra.

LEITE — O TEMA QUE FERVENTE NÃO DESCE
Audiência pública histórica lota a Alesc e cria GT para enfrentar a crise
Na noite de quarta-feira (12), a Assembleia Legislativa de Santa Catarina – Alesc viveu uma das maiores mobilizações do setor leiteiro.
Mais de 700 pessoas lotaram o auditório Deputada Antonieta de Barros, na audiência convocada pelo presidente da Comissão de Agricultura, deputado Altair Silva (PP).
E a lista de presença foi robusta — exatamente como o produtor exige:
- Julio Garcia, presidente da Alesc
- Oscar Gutz e Luis Corti, deputados estaduais
- Carlos Chiodini secretário de estado da Agricultura e Pecuária
- Daniela Reinehr e Valdir Cobalchini, deputados federais
- José Zeferino Pedroso, presidente da Faesc
- Marcilei Vignatti, presidente da Uvesc
- Vanir Zanatta, presidente da Ocesc
- Selvino Giesel, presidente do Sindileite
- Admir Dalla Cort, secretário-adjunto de Agricultura
- Prefeitos, vereadores, lideranças cooperativistas e centenas de produtores
A fala que resumiu o clima foi de Altair Silva:
“O produtor está pagando para trabalhar. Se não agirmos agora, milhares vão abandonar uma atividade que leva décadas para ser construída.”
O encontro terminou com a criação de um Grupo de Trabalho do Leite, que reúne Altair Silva; José Zeferino Pedroso; Marcilei Vignatti; os prefeitos Serginho Besen (Ibicaré) e Chico Folle (Xaxim); o secretário Chiodini e o deputado Cobalchini; Selvino Giesel; e o deputado Oscar Gutz.
Agora, a cobrança é direta ao governo federal.
A crise é estadual, mas o plano de voo é catarinense
Enquanto a audiência pegava fogo, a Secretaria de Agricultura e Pecuária reativou a Câmara Setorial do Leite, reunindo Conab, Ocesc, UFSC, Fetaesc, Sindileite, Faesc, Conseleite, Epagri/Cepa e produtores.
A especialista Andrea Assing (Cepa/Epagri) mostrou o diagnóstico: SC é o 4º maior produtor do país, mas perde produtores ano após ano. O aumento das importações derruba o preço pago ao catarinense e a conta não fecha.
Leite Bom SC: R$ 150 milhões para segurar o produtor na atividade
O governo do Estado reforçou o programa Leite Bom SC:
- Pronampe Leite SC (já destinou R$ 722,7 mil)
- Financia Leite SC (R$ 104,3 milhões aplicados em 2.862 produtores)
Além disso, outros R$ 150 milhões serão revertidos em incentivos tributários à indústria. O objetivo? Evitar um colapso ainda maior.
Brasília também entrou na roda: genética, CPI e projeto novo
Na Câmara dos Deputados, a pauta do leite virou rotina.
Na terça (11), a Comissão de Agricultura debateu melhoramento genético para pequenos produtores. O deputado Rafael Simões (União-MG) defendeu democratizar tecnologias como transferência de embriões. O MDA, por meio do secretário Vanderley Ziger, confirmou que já há um programa nacional criado pela Portaria nº 28/2025 — falta fazer virar realidade.
O deputado José Medeiros (PL-MT) seguiu o clima da audiência catarinense e avisou: está coletando assinaturas para instalar a CPI do Leite.
Zé Silva: chega de leite reconstituído entrando como se fosse nosso
O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) apresentou o PL 5738/2025, proibindo a reconstituição de leite em pó importado para consumo humano.
O objetivo é claro: acabar com a concorrência desleal que derruba o preço no campo.
O produtor paga para trabalhar. E paga caro.
Energia, ração, logística: tudo subiu. O preço pago ao produtor caiu. A matemática é simples: está mais perto do vermelho do que o rótulo da caixinha.
E quando o produtor sai, ele não volta
Essa foi a frase que ecoou na Alesc. O abandono da atividade é irreversível. E o impacto econômico para SC é ainda maior: mais de 20 mil famílias dependem do setor.
CERVEJA — DO GRÃO AO GOLE
Cevada brasileira deve bater recorde em 2025
A Conab projeta 516,5 mil toneladas de cevada – recorde histórico.
Mesmo assim, o Brasil ainda importa 77,31% da cevada usada na produção de cerveja e quase 1 milhão de toneladas de malte.
O setor vibra, mas lembra: ainda estamos longe da autossuficiência.
Sul domina a produção
O Paraná segue como líder e ampliou a capacidade com a Maltaria Campos Gerais, em Ponta Grossa, fruto de R$ 1,6 bilhão de investimento das cooperativas Agrária, Frísia, Castrolanda, Capal, Bom Jesus e Coopagrícola.
Tecnologia e pesquisa transformam o grão
A Embrapa Trigo destaca cultivares mais produtivas e resistentes.
A nova cultivar já é 16% mais produtiva, reduz perdas e aumenta a competitividade.
Ambev reúne 600 produtores no RS
Em Muitos Capões, o encontro anual celebrou a sinergia entre indústria e campo.
Felipe Baruque, VP da Ambev, resumiu:
“Investir no campo é investir na qualidade da cerveja.”
E, convenhamos, depois da semana que o setor leiteiro teve, um brinde não é apenas permitido, é recomendado.
MAURO DE NADAL NA COP30 — Missão cumprida e recado dado
De Belém para Santa Catarina, o deputado Mauro de Nadal (MDB) voltou com três reivindicações claras:
- Fundo internacional para pagar diretamente o agricultor que preserva
- Isenção de tributos para energia limpa
- Compensação financeira para municípios preservadores
E fez a crítica mais certeira da semana:
“A burocracia do crédito de carbono é tão grande que nem advogado especializado dá conta – imagine o agricultor.”
PL ANTIFACÇÃO — O JOGO PESOU
Brasília tenta votar, mas não consegue.
O relator Guilherme Derrite (PP-SP) apresentou a 4ª versão, o governo reclamou, os líderes pediram tempo, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), jogou para a semana que vem.
O texto inclui:
- Definição de facção criminosa
- Aumento de penas
- Destinação de bens para o FUNAPOL
- Agravantes como uso de drones
- Proteção explícita a membros do Judiciário e MP
Mas a disputa política é mais quente que leite no fogão.
Lupion joga o MST na roda
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA, Pedro Lupion (Republicanos-PR), apresentou emenda para enquadrar MST e grupos invasores dentro do PL.
Segundo ele:
“Se é crime organizado, o MST também precisa estar no PL Antifacção.”
O debate promete incendiar o plenário e, desta vez, não é figura de linguagem.
SEBRAE – REFORÇO NO TURISMO, NO EMPREENDEDORISMO E NO AGRO
Para fechar a coluna com o que Santa Catarina tem de melhor: trabalho e parceria. O Sebrae/SC esteve em São Miguel do Oeste na terça (11), com:
- Renato Campos Carvalho, presidente do Conselho Deliberativo
- Antônio Marcos Pagani de Souza, vice-presidente do CDE e VP de finanças da Faesc
- Udo Trennepohl, gerente regional
Recebidos pelo prefeito Edenilson Zanardi, discutiram:
- Implantação do Programa Cidade Empreendedora
- Plano Municipal de Turismo
- Fortalecimento da ovinocultura
- Programa Lucra Mais
Na Ameosc, debateram o Projeto Regional de Desenvolvimento Turístico Integrado para 19 municípios – foco em saúde, bem-estar, turismo rural e negócios. Tudo ao lado do secretário executivo, Airton Fontana.
Na Cooperoeste, tratou-se de gestão rural, competitividade e de ampliar ações para Abelardo Luz em 2026.
No saldo final, o Sebrae trouxe técnica, visão e proximidade – algo que o Extremo-Oeste catarinense responde com produção, liderança e empreendedorismo.





