Sociedade brasileira será cada vez mais de direita, diz professor da Fundação Dom Cabral

Professor Paulo Cabral da Fundação Dom Vicente

Paulo Vicente, professor de Estratégia na Fundação Dom Cabral, em fala na ExpoGestão: “as crises econômicas mundiais são cíclicas, e se revelam a cada 50 anos: estamos bem no meio do período entre a eclosão da última até a chegada da próxima crise”

O senhor fala em ciclos econômicos e que eles explicam a História. Onde estamos hoje?

Paulo Vicente – Os ciclos das crises brasileiras acontecem a cada 50 anos. E relaciono os momentos históricos em que as crises eclodiram no Brasil: 1. os anos pré Independência; 2. com a Guerra do Paraguai; 3. na transição da Monarquia para a República; 4. com o choque do petróleo; 5. a crise da dependência de commoditties atual.

Como enxerga a crise atual e qual o seu impacto?
Vicente – A crise de agora vai se aprofundar no biênio 2025-2026. O Brasil precisa se (de)industrializar e criar uma classe média mais ampla e forte. O país entrega muitos bilhões de reais em troca de baixíssima produtividade. Este modelo distributivista de renda não se sustenta mais por muito tempo. Neste contexto, onde se privilegia políticas econômicas destinadas a impulsionar o consumo, no médio e longo prazos, as empresas que vão sobreviver serão aquelas com mercado e que são menos vulneráveis a preços.

Nossa inserção global dos negócios é de menos de 2 por cento das transações mundiais. O que isso significa para o longo prazo?

Vicente – Nossa excessiva dependência das commoditties expõe demais o Brasil frente a outros países, especialmente em relação a China. Há grande possibilidade da China atacar Taiwan e eclodir uma guerra e isso poderá acontecer por volta de 2035. A China está se preparando para isso. E, nesta situação geopolítica, os Estados Unidos vão contra-atacar. Como nossa pauta exportadora é muito concentrada em clientes chineses, não teremos para quem exportar. É fundamental diversificar as exportações para Índia, Oriente Médio, Europa. 

O mundo está mais conservador, com populações votando em candidatos de direita e extrema direita. Que transformações passa a sociedade brasileira?

 Vicente – No campo político, a esquerda tem duas opções: a) defender com mais veemência as pautas e os interesses da classe média ou b) vai sumir do mapa político como força relevante nas próximas décadas. 

E estão acontecendo mudanças de comportamento. A sociedade está alterando concepções. Como isso impacta as relações de poder? 

Vicente – O Brasil, no curto prazo, é um terreno ainda fértil para as esquerdas por causa da pobreza, das desigualdades sociais e econômicas. Mas, atenção para um ponto: a cada eleição, teremos mais gente da direita no Congresso e como governadores e prefeitos. 6.

Por que isso deve acontecer?

    Vicente: Porque quando o povo fica menos pobre vai para a direita. 7. Mas há outros elementos a explicar esse redirecionamento ideológico… 

    Vicente – Sim. Temos tendências de transformações bem delineadas para o futuro. a) A população está ficando mais velha e, quando as pessoas envelhecem, se tornam mais conservadoras b) A taxa de fertilidade está caindo. Atualmente é 1,65 filho por mulher. Este índice já foi superior a 4 há algumas poucas décadas. c) Com menos pessoas nas famílias, as pessoas acumulam mais dinheiro d) O Brasil está indo para o interior, para cidades médias do interior. Os moradores do interior costumam ser mais conservadores em costumes e ideologicamente. e) Está aumentando o número de brasileiros que se dizem evangélicos.

    Em 2032, segundo projeções do IBGE, os evangélicos serão maioria da população, ultrapassando os católicos. 8. Isso explica a atual polarização da sociedade e na política? 

    Vicente – O Brasil de 1980 era jovem, pobre, católico e de periferia. Em 2060 seremos um país de classe média com idade próxima a 60 anos, que mora no interior, evangélico e conservador. Então, o que assistimos hoje, esse embate polarizado representa exatamente esse momento de transição.

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