O governador Jorginho Mello (PL) tem sido hábil em driblar o assunto mais espinhoso de sua pré-campanha à reeleição: a montagem da chapa majoritária. Com a migração de Carlos Bolsonaro (PL) para disputar o Senado e a multiplicidade de interesses de aliados, definir quem ocupará os postos de vice-governador e a outra vaga de senador virou um quebra-cabeça complexo. Jorginho repete que “isso se vê lá na frente“.

Enquanto o governador tenta ganhar tempo, não falta quem queira “ajudar”. E esse ajudar, muitas vezes, parece mais atrapalhar. No domingo, o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, trouxe a informação de que “caciques do PL nacional” estariam negociando uma “solução” para a disputa na direita em Santa Catarina. A engenharia proposta, vinda de Brasília, é curiosa e revela uma profunda desconexão com a realidade catarinense.
Pela proposta, haveria um redesenho completo das articulações. Esperidião Amin, hoje pré-candidato à reeleição como senador, seria convidado para a vaga de vice de Jorginho. A vaga ao Senado resultando desse arranjo não seria garantida à deputada federal Caroline de Toni (PL) como forma de estancar a crise do PL catarinense – seria oferecida a João Rodrigues (PSD), pré-candidato a governador.
Na prancheta de Brasília, a conta fecha: Jorginho governador, Amin vice, João Rodrigues e Carlos Bolsonaro ao Senado. Na prática, a proposta ignora contextos locais e deixa pontas soltas que podem derrubar todo o projeto. Pior, ao vazar pela imprensa nacional, a hipotética solução ajuda muito pouco o governador Jorginho Mello a controlar seu time e pacificar seus aliados aqui no Estado.
As principais pontas soltas da “solução” de Brasília
Caroline De Toni (PL) fora da chapa
A principal ausência nessa equação é a deputada federal Caroline De Toni (PL), que lidera as pesquisas para o Senado. Segundo a apuração de Gadelha, a alegação das lideranças nacionais é que a parlamentar é jovem (39 anos) e “pode esperar”.
Esperar pelo quê? Uma vaga ao Senado em 2030? O problema desse argumento é que, em 2030, caso Jorginho Mello se reeleja, o candidato natural ao (único) assento no Senado será o próprio governador. O cavalo encilhado, que passa agora para Caroline de Toni com duas vagas, talvez não passe em 2030.
Trocar a liderança nas pesquisas por uma promessa incerta em 2034 não parece um cálculo político viável. O cenário mais provável, nesse caso, seria a confirmação da candidatura de Caroline de Toni pelo Novo, cuja oferta já está na mesa.
O MDB
A segunda ponta solta é gigantesca: o MDB. O partido, que recentemente fez um grande evento para se cacifar à vaga de vice-governador e que tem Carlos Chiodini como ficha um para essa posição, é simplesmente desalojado da chapa nessa proposta.
O segundo maior partido do Estado em prefeituras e bancadas, com forte militância, não só perderia o espaço que almeja, como o veria entregue a um adversário histórico, Esperidião Amin. Dificilmente o MDB se contentaria em integrar um “condomínio” sem protagonismo, aceitando passivamente essa articulação.
O espaço vazio
A ideia de trazer o adversário mais consistente para o próprio palanque é quase sempre irresistível, mas é necessário medir seus efeitos para que não crie espaços vazios que possam ser preenchidos. Em 2006, Luiz Henrique da Silveira disputaria a reeleição como governador pelo PMDB e conseguiu trazer para sua chapa dois postulantes ao governo: Leonel Pavan (PSDB) ficou com a vice, Raimundo Colombo (PFL) foi candidato ao Senado.
O engenho teve resultado porque tinha um desenho claro: isolar o rival Esperidião Amin e a esquerda, que até então nunca haviam frequentado o mesmo palanque.
Se trouxer João Rodrigues e o PSD para sua chapa, Jorginho Mello precisará medir perdas e ganhos. A “solução” dos caciques nacionais do PL, revelada por Igor Gadelha, deixa soltos Caroline de Toni (um nome forte para o Senado) e o MDB (um partido com base e tempo no horário eleitoral).
Eles podem remoer suas derrotas internas e acompanharem Jorginho calados? Claro que podem.
Dá mesma forma que podem dar suporte a viabilidade a quem hoje parece fora do jogo. O prefeito de Joinville, Adriano Silva (Novo), por exemplo.






