Somos muitas Cíntias Chagas em Santa Catarina

Quando voltamos as atenções para o caso da influenciadora digital Cíntia Chagas, que registrou um boletim de ocorrência, com base na Lei Maria da Penha, contra o seu ex-marido, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), não falamos só sobre ela. Somos muitas Cíntia Chagas aqui em Santa Catarina. Vítimas de violência doméstica, do medo e do preconceito. Só quase dois meses depois do caso, Cíntia decidiu falar sobre o assunto. Eu demorei mais de 2 anos. Há quem se cale para sempre.

Quando Cíntia Chagas resolve falar sobre o tema, ela dá voz e coragem a milhares de mulheres que enfrentam todo tipo de violência pelo simples fato de serem mulheres. Nesta sexta-feira, 11, em seu perfil do Instagram, a influenciadora assumiu o compromisso de usar, ainda mais, as suas redes sociais como molas propulsoras da autonomia financeira das mulheres. Um requisito fundamental para que as vítimas consigam sair de relações abusivas.

A violência doméstica não acontece de forma isolada e não tem distinção social. Cíntias, Marias, Andreias, Gabrielas, Lorenas já sofreram algum tipo de violência, lembrando que ela pode ser física, financeira, psicológica, moral, sexual ou patrimonial. Em Santa Catarina, só de janeiro até setembro deste ano foram emitidas 22.731 medidas protetivas. 41 foram vítimas de feminicídio, ou seja, foram mortas pelo fato de serem mulheres. Há menos de 15 dias, aqui na coluna registramos a morte da advogada Karize Ana Fagundes Lemos, por feminicídio.

Se por um lado a sociedade civil, a classe política e as entidades representativas estão trabalhando para mudar esses números, por outro ainda há um longo caminho a percorrer. Ontem, quinta-feira, 10, entrou em vigor a lei que eleva a 40 anos a pena para o crime de feminicídio — o assassinato de mulheres em contexto de violência doméstica ou de gênero. Publicada no Diário Oficial da União a Lei 14.994, de 2024 foi sancionada sem vetos pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Com isso, a pena para os condenados pelo crime de feminicídio passa a ser de 20 a 40 anos de prisão, maior do que a incidente sobre o de homicídio qualificado (12 a 30 anos de reclusão).
Enquanto a legislação avança, nós mulheres, e digo nós pois também já fui vítima, lutamos para que nossas vozes sejam ouvidas, para abrir caminho para que outras mulheres sejam encorajadas a sair de relacionamentos abusivos e principalmente para que as vítimas tenham a proteção e a assistência necessárias para seguir em frente.

Sobre o caso de Cíntia
Com mais de 6, 5 milhões de seguidores, a influenciadora, professora de português e palestrante, Cíntia Chagas, rompeu com Lucas Bove, após três meses de casamento, em agosto deste ano. Um mês depois ela formalizou acusações contra o ex-marido alegando episódios de violência doméstica.

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