Na campanha eleitoral, o governador Jorginho Mello (PL) prometeu atender uma antiga demanda do setor produtivo de diversas regiões do Estado, especialmente Oeste e Meio Oeste, que era a instalação de rede trifásica de energia elétrica pela Celesc. Hoje, o tema é um dos pontos altos dos discursos do governador pelo Estado. Até agosto serão implantados os primeiros 500 quilômetros de rede prometidos para os quatro anos de gestão.
Para entender o que representa esse avanço e falar de outros temas da estatal, conversei com o presidente da Celesc, Tarcísio Rosa, na sede da estatal em Florianópolis. Ele revelou que no início não entendeu o apelo pela troca das redes monofásicas pelas trifásicas, mas que se rendeu à realidade vivida no interior do Estado.
Falamos também sobre o investimento em postos de atendimento para automóveis elétricos, sobre a entrada da companhia no mercado livre de energia e sobre o aguardado aplicativo que vai colocar atendimento às demandas da Celesc na palma da mão do consumidor.
Leia a entrevista
Em todos os discursos, o governador Jorginho Mello fala com muito orgulho da expansão da energia trifásica no interior do Estado. Ele falava disso desde a campanha eleitoral e era uma demanda muito cobrada. O que tornou viável a execução dessa primeira etapa de 500 quilômetros?
Primeiro tenho que dizer que o discurso do governador Jorginho Mello era perfeito e a gente às vezes não tinha a percepção da importância disso. Eu próprio, chegando na Celesc, o pedido que ele me fez era “veja a energia trifásica”. E botamos um foco na energia trifásica. É um sucesso no Estado inteiro. Tanto é o nosso programa previa 500 quilômetros de energia trifásica até o final de 2024 e nós aceleramos. Vamos concluir início de agosto.
Quais as vantagens práticas?
Mais energia, mais estabilidade, mais segurança, confiabilidade. Às vezes o pequeno empresário, agricultor, agropecuarista, tinha que dizer, olha, vou fazer o meu trabalho agora, depois você faz meia hora depois, para não faltar. Então, o agropecuarista que tem lá hoje galpões climatizados com 60 vacas para tirar leite. Antes ele tinha quatro, cinco. A rede monofásica atendia. Agora não.
Quando o senhor fala que quando ele tinha quatro, cinco vacas, a monofásica atendia, agora ele tem quarenta. Isso é um período grande, para essa unidade ter quatro e passou para 40. É muito tempo sendo sem prioridade para o tema?
É muito tempo, sim, mas a tecnologia não chegou lá no primeiro ano, segundo ano. Vamos imaginar que quando se colocou a rede monofásico, por 10 ou 15 anos atendeu e muito bem. Especialmente para quem não tinha nada. Muita gente não tinha nada, mas de lá para cá isso aumentou e Santa Catarina é um dos Estados onde mais cresce o consumo em relação ao Brasil. O agronegócio em Santa Catarina é muito pujante em qualquer cidade do interior. E a gente já começa a receber o retorno, o feedback extremamente positivo. Pequenos agricultores que têm outras oportunidades.
É perceptível a atenção e o investimento da Celesc na rede de abastecimento de automóveis elétricos. Qual o peso desse assunto pensando no futuro da companhia?
É um futuro, um caminho sem volta. Você vai ter um carro elétrico ou híbrido. Aquele carro elétrico que antes era quase muito inatingível pelo preço, agora começa a ficar quase igual. Qual a diferença? A diferença é que a energia elétrica comparada com combustível, seja diesel ou gasolina, vai cair a 10% desse valor. Então você paga logo isso.
Garante que ninguém vai ficar na estrada?
Em Santa Catarina hoje você sai lá do Rio Grande do Sul e quer ir até o Paraná, pelo litoral, não vai ter problema. Tem uma certa quilometragem, tem postos de reabastecimento, eletropostos. Daqui ao Extremo Oeste, a mesma coisa. E estamos ampliando. Temos hoje 34 postos e vamos colocar mais 20. Então, isso é um caminho sem volta.
O que me chama atenção é que não há cobrança nas unidades da Celesc. Qual a estratégia?
Por enquanto, não. A gente entrou com um processo de pesquisa e desenvolvimento, ou seja, como funciona isso, e eficiência energética. A gente está trocando combustível fóssil por energia elétrica. Mas nós estamos começando a pensar em transformar num negócio, ou seja, subsidiando uma parte ainda e revertendo o que for faturado para ampliação de postos. É importante lembrar, assim, nos países da Europa, o pessoal começou a ficar um pouco contra o carro elétrico, porque ele está votando um carro elétrico alimentado por uma fonte não renovável. Imagine um gerador diesel colocando energia elétrica num carro. Não é elétrico. Em Santa Catarina, no Brasil inteiro, a gente está com mais de 90% de energia limpa e renovável. E Santa Catarina não é diferente. A Celesc só tem fontes renováveis, pequenas hidrelétricas e também fotovoltaicas.
Qual o futuro da Celesc? Como é que o senhor vê o futuro da companhia?
O futuro da companhia é muito bom. Ela está muito bem hoje no presente, trabalhando muito, a equipe é muito boa, nós estamos trabalhando muito em modernização, softwares, nós vamos trabalhar aí com uma conexão boa dos nossos clientes com a própria Celesc. Você daqui a pouco vai trabalhar com a Celesc ou acessar a Celesc como se fosse um banco. Ninguém vai mais no banco. E logo, logo, na Celesc também, ninguém vai precisar ir em uma loja.
App da Celesc?
Aplicativos no seu celular. Quer pedir uma ligação, uma transferência de titularidade? Quer ver uma segunda via, quer pedir uma ligação nova, qualquer coisa, tudo por ali. Isso daqui a pouco o pessoal vai anunciar.
Como a Celesc lida com o mercado livre de energia?
O mercado livre mudou a partir do dia 1º de janeiro deste ano, atingindo empresas que estão ligadas em alta tensão, Grupo A, que a gente chama, com qualquer quantidade de carga ou volume. Antes havia limites. Então, a Celesc tem que tomar uma decisão e dizer “vamos atender nossos clientes no mercado livre”. Mercado livre é um mercado de oportunidade. Em algum momento pode estar mais barato que a distribuidora e em outro momento pode não estar. Então o que vai fazer a Celesc? Criou já a varejista, criamos a partir de 23 de janeiro, na câmara de comercialização, passou a existir. Celesc varejista. Nós vamos poder pegar o nosso cliente e colocar ele no mercado livre. Com a marca Celesc.
Qual a vantagem?
Primeiro, já sabe com quem trata. Não vai ter problema nenhum, que é a mesma Celesc que te atende desde que você mora no Estado. Com uma diferença, a confiança, credibilidade. Se ele nunca teve problema com a Celesc, não vai ter agora. Aí eu ouso até dizer que a gente não precisa competir no preço. Nós vamos competir no trabalho, na forma de atender e mudar um pouquinho a cabeça de cada um de nós dentro da Celesc, que ao invés de ser procurado, começa também a procurar o cliente.
E como é ter que competir com outras empresas, considerando que a estatal não tem esse hábito?
A Celesc tem que concorrer neste momento. Esse é o desafio, esse é o desafio. Concorrer com empresas que têm aí anúncios gigantes, que são grandes empresas, de fato. Mas dizer que “a Celesc também faz e faz para você dando menos trabalho”. Você vai saber para quem reclamar na hora que reclamar e com certeza não vai ter problema. Mercado livre é o mercado de entre partes. Você tem que saber qual é a outra parte com quem você tá negociando. Aí eu pergunto, você vai negociar com a Celesc? Tem algum susto ou medo? Zero. Então, vamos concorrer com credibilidade, com a marca. A marca Celesc é muito forte. Eu conheço a Celesc desde que nasci. Eu desde que nasci já existia Celesc. Então, alguém vai dizer “não, sai da Celesc e vem para cá”. Se a gente não atender bem, isso acontece. Mas se atendermos bem, não vai acontecer e a concorrência vai ser no sentido de captar. Não precisaremos dar o desconto máximo e competir com ninguém, porque eu prefiro ficar na Celesc, tem um desconto um pouco menor que o outro, mas eu estou na Celesc, eu estou seguro, tem segurança e credibilidade.
Foto – Upiara Boschi entrevista o presidente da Celesc, Tarcísio Rosa. Crédito: Divulgação.