Desde janeiro, quando assumiu a Secretaria de Educação do governo Topázio Neto (PSD), Thiago Peixoto tem o desafio de melhorar a performance de Florianópolis no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Ex- deputado federal e ex-secretário de Educação do Estado de Goiás, Peixoto afirma que a capital catarinense tem uma rede com “muito potencial”, mas com “indicadores baixos”. Para virar esse jogo, a exemplo de cidades como Teresina (PI) e Goiânia (GO), ele vem liderando um programa formado por sete pilares principais, entre eles avaliação permanente, aumento da carga horária e mudança de cultura. O secretário parte do princípio de que a rede municipal da capital catarinense tem uma das melhores infraestruturas do país, mas apresenta um “problema grave de aprendizado”. Nesta entrevista, ele fala sobre o quadro da educação em Florianópolis e o que vem sendo feito para levar a cidade para outro patamar quando se fala em ensino público.
Logo depois da reeleição, o prefeito Topázio Neto (PSD) falou à coluna que tinha como prioridade melhorar a performance de Florianópolis no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). É o grande desafio da gestão?
Existe um cuidado no sentido de melhorar a aprendizagem de cada estudante. E a consequência disso é um Ideb melhor. A consequência imediata de uma aprendizagem mais adequada é obter indicadores melhores. Mas o foco é a aprendizagem. É importante dizer isso. O termômetro é o indicador, mas o foco é melhorar a aprendizagem. Florianópolis está em décimo quinto nos anos finais do ensino fundamental. A primeira é Teresina, que tem desafios sociais bem maiores do que Florianópolis. Nos anos iniciais, do primeiro ao quinto, Florianópolis é a décima colocada em comparação com outras capitais. Qual é a rede de referência? É Goiânia, que estava em nono lugar em duas avaliações anteriores. É um chamado muito forte para a gente mudar e virar o jogo. As duas cidades mostram que é possível fazer isso em condições sociais mais desafiadoras. Goiânia prova que é possível virar o jogo rápido. Senso de urgência é muito importante aqui. Falando de aprendizagem, cada dia de aula conta.

Foto: Allan Carvalho, divulgação
Como é o panorama da aprendizagem?
Depois de nove anos na escola, no término do ensino fundamental, 85% dos estudantes da rede de Florianópolis não têm conhecimento adequado em matemática. E 68% não têm em língua portuguesa. É como se os estudantes de Goiânia tivessem um ano a mais de escolaridade do que os de Florianópolis. Se comparar com Teresina, é um ano e meio a mais. Quando falo que 85% tem conhecimentos inadequados em matemática e mais de 50% deles estão no nível 0 e 1, significa que 40% de todos os alunos da nossa rede não sabem resolver um problema de matemática de somar ou subtrair. Estou falando isso porque é um chamado para mudança. Uma outra coisa importante é investimento: somos a capital que mais investe em educação e estamos na 15º colocação. Teresina, primeira em qualidade, é a 16ª em termos de investimento.
É uma questão de olhar mais para a gestão desses recursos então?
Sim, muita gestão. Temos um plano de longo prazo e um programa de aprendizagem para 2025, com iniciativas que já estão em implementação. Por exemplo, tempo integral no 5º ano e no 2º ano do ensino fundamental e ampliação das aulas de língua portuguesa e de matemática nesses e em outros anos. Por quê? Comparado com outros municípios brasileiros, oferecíamos menos aulas dessas disciplinas, o que explica um pouquinho porque eles têm uma aprendizagem mais forte. Florianópolis tinha um currículo muito amplo e que não era adaptado, adequado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Outra coisa muito importante que estamos fazendo: avaliações em escala para acompanhar os estudantes. Isso faltava aqui: sabíamos se íamos bem ou mal de dois em dois anos, quando saía o Ideb. Vamos, então, ter uma serie de avaliações – a primeira foi na semana passada. Com base nessa bússola, podemos formar professor, fazer material específico para os alunos.
Quando eu conversava com diretores de escola, comecei a perceber que eles falavam de tudo – da goteira, do ar-condicionado -, mas ninguém discutia o centro da educação, que é a aprendizagem. Então já fizemos três formações em gestão da aprendizagem com os diretores escolares para que tenham esse foco. É toda uma mudança de cultura desses diretores, que estão mais preocupados com outras coisas para terem um olhar específico para a aprendizagem.
Outra iniciativa é acompanhamento pedagógico. As políticas que estamos pensando na secretaria têm que chegar lá no chão da sala de aula. E temos que ter o intermediário, que chamamos de tutores pedagógicos, para levar isso e para apoiar isso acontecendo lá. É um grupo e cada tutor pedagógico apoia quatro escolas. Ele vai acompanhar se aquilo está sendo pensado, planejado e está acontecendo. E onde não estiver acontecendo, mais do que fiscalizar vai apoiar a implementação.
Também é importante citar um acompanhamento muito seguro de frequência dos estudantes. que vem sendo realizado. Isso já acontecia na rede, mas estamos refinando. Já tínhamos uma resposta semanal ou quinzenal, que agora passa a ser diária. Se o estudante faltou um dia, já se quer saber o motivo. Porque assim se evita que, ao longo do tempo, ele saia da escola e mais do que isso, corrige os desafios que ele está tendo no dia a dia. Se deixar acumular muito a falta, quando fizer essa intervenção, você já perdeu esse estudante.
Tudo isso, ou a maior parte disso você implantou em Goiás?
Sim, fiz isso quando eu fui secretário em Goiás, mas tudo é meio que consenso na educação. Não é nada que inventei, é uma política de boas práticas que o Brasil e o mundo fazem. O básico. E uma coisa que percebi aqui em Florianópolis é que como as escolas olhavam para a secretaria. Como se a secretaria fosse uma mantenedora e cada um fazia a política que queria. E desse jeito não se cria uma rede e gera desigualdade educacional.
São frequentes os relatos de problemas nas estruturas físicas das escolas especialmente na Câmara de Vereadores. Qual é o diagnóstico da secretaria a esse respeito?
Temos uma das melhores infraestruturas do Brasil, nosso problema não é esse. Como eu conheço muitas redes de ensino, fico impressionado positivamente com o que a gente oferece de infraestrutura. Tem problema? Tem! Mas é importante que a se tenha em relação à aprendizagem, que é o nosso problema, a mesma indignação existente diante da infraestrutura – goteira, ar-condicionado etc. Temos um problema terminal, que é a aprendizagem, e só estamos falando da unha encravada. Veja: 85% dos nossos estudantes ficaram nove anos na escola e não sabem resolver um problema de soma ou subtração de matemática. Onde estamos mal, comparando com outros lugares do Brasil, é na aprendizagem. E poderíamos ser uma potência. Vamos falar de infraestrutura? Vamos! Mas a gente tem um problema muito mais grave que é de aprendizado. A gente pode melhorar a infraestrutura, mas o foco tem que ser em aprendizado, onde a nossa dor é maior. E essa consciência é importante. Estamos indignados com coisas que são importantes, mas não são centrais.