Tirei 2, mãe! Passei de ano!! Oba!!!”


Estas frases, com exclamação de alegria, a partir de 2025, serão cada vez mais ouvidas nas casas de alunos da rede estadual de ensino em Santa Catarina.


Como assim? A pergunta vem dos desavisados e/ou dos desatentos para com as mudanças no processo de avaliação e aprovação dos estudantes do ensino médio introduzidas por portaria da Secretária de Educação do Estado de Santa Catarina.


Mas, afinal, o que vai mudar?


Simples: os alunos serão considerados aprovados quando conseguirem média 6 no conjunto de todas as disciplinas da grade curricular. Então, por exemplo, o aluno pode tirar, ao final do ano, média 2 em Língua Portuguesa e 2 em Matemática e ser aprovado.


Como isso será possível?


Bastará, por exemplo, tirar 10 em Geografia e 10 em Educação Física ou Artes, e nota média anual 6 nas demais disciplinas.


Até recentemente, a aprovação acontecia quando os estudantes conseguiam pelo menos nota 6 em TODAS as disciplinas. É fácil, então, perceber que a alteração é substancial e não acessória. A nova metodologia facilita a aprovação e diminui o interesse pelo efetivo aprendizado. Claro que vai elevar o índice geral de aprovados no ensino médio. Mas isso está longe de melhorar a qualidade do ensino.


Bem ao contrário. Se o IDEB 2024 das escolas públicas catarinenses já foi bem abaixo de 5,0 (cinco), dá para imaginar como será de agora em diante!


O futuro padrão de conhecimento básico será diminuído sensivelmente. Qual será o empenho dos estudantes em estudar, se sabem que precisam saber muito pouco para passar de ano?


E qual será o estímulo dos professores em ensinar, se sabem que os alunos terão muito pouco interesse?


Sim. A Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina vai promover audiência pública para debater o assunto. A iniciativa é correta. Mas não vai mudar nada na prática.
O Conselho Estadual de Educação já aprovou, previamente, a nova normativa do governo do Estado.


Tive um professor no ensino médio, ao tempo em que se chamava Científico. Ele era excelente. E exigente.


Certa vez ele pediu para os alunos fazerem um trabalho. Quando os textos foram entregues chamou um deles para o canto e disse: “Você pode fazer melhor. Refaça o trabalho”.


Depois de três dias, o aluno entregou o texto, com ajustes e complementações. O professor leu e devolveu: “Você pode fazer melhor”.


O aluno refez o trabalho e o entregou. O professor, na aula seguinte, chamou o aluno e disse, só para ele ouvir: “Você pode fazer melhor”.


Aí, o aluno, incrédulo, respondeu: “Professor, o senhor nem leu os trabalhos que te entreguei!”.
E o professor respondeu: “Verdade. Não li. Porque eu sabia que você podia fazer mais e melhor. Faça novamente. Faça o seu melhor”.


Essa história revela a preocupação mútua com a qualidade. Pergunto: com a mudança no processo de avaliação e aprovação, haverá professores interessados em extrair o melhor de cada aluno?
E haverá aluno com fibra suficiente para dar o melhor de si quando ambos – professor e aluno – sabem que não serão obrigados a isso?

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