O futebol catarinense vive um daqueles momentos em que o silêncio assusta mais do que a vaia. A temporada de 2025 se despede deixando um gosto amargo, quase metálico, na boca de quem ainda insiste em acreditar que tradição, sozinha, paga folha salarial, ilumina estádio e sustenta projeto esportivo. Dentro das quatro linhas, há pouco, muito pouco, a celebrar. Fora delas, o cenário é ainda mais inquietante.

Nos campeonatos nacionais, Santa Catarina passou quase despercebida. A Chapecoense, com esforço e organização, ao menos manteve a dignidade competitiva para conquistar o acesso. Os demais tropeçaram nas próprias promessas. O Criciúma bateu na trave, o Avaí ficou longe do discurso otimista que antecedeu o ano, e o Figueirense segue preso a um limbo perigoso, onde a estagnação vira rotina e a sobrevivência passa a ser tratada como virtude. Desportivamente, não avançamos. Administrativamente, patinamos. Politicamente, encolhemos.
E aqui está a ferida que precisa ser exposta sem anestesia. O futebol catarinense perdeu relevância no tabuleiro nacional. Já não ocupa espaços de decisão, não influencia calendários, não pauta debates. Tornou-se figurante em um espetáculo cada vez mais concentrado no eixo Rio e São Paulo. Se nada mudar, corremos o risco de reviver um passado que pensávamos superado, quando torcedores daqui dividiam sua paixão entre clubes locais frágeis e gigantes distantes, acompanhados pelas ondas curtas do rádio.
A gestão também preocupa, e muito. O tempo dos presidentes mecenas acabou. Ninguém mais puxa o escorpião do bolso por amor, vaidade ou romantismo. O futebol virou negócio, e quem não entendeu isso ficou para trás. Justamente agora, quando o advento das SAFs redesenhou o mapa do poder, os clubes catarinenses ainda discutem soluções de curto prazo, remendos, apostas improvisadas. Falta projeto. Falta profissionalização. Falta visão de futuro.
E a história ensina, ainda que muitos insistam em ignorá-la. O Metropol é o exemplo mais doloroso. Um clube que brigou por títulos nacionais, que frequentou o noticiário esportivo internacional, que mobilizou uma cidade inteira. Hoje, simplesmente, não existe mais.
Se o futebol catarinense não mudar sua forma de trabalhar, se não atrair novos parceiros, se não se abrir a modelos modernos de gestão e financiamento, perderá ainda mais espaço. E perder espaço, no futebol, é o primeiro passo para desaparecer. A camisa pesa, mas não sustenta. O escudo emociona, mas não paga contas. A tradição encanta, mas não salva.
Este não é um texto pessimista. É um alerta. Um chamado incômodo, mas necessário. Porque ainda há tempo, pouco, é verdade, mas há. Ignorar o momento seria assinar, com tinta invisível, o atestado de irrelevância e, em alguns casos, de falência. O futebol catarinense precisa decidir se quer sobreviver como coadjuvante ou lutar para voltar a ser protagonista.





