
Existiria a “persuasão do mal”?
Esta semana postei um carrossel no meu Instagram depois de ler uma matéria do UOL que chamava de “bullying diplomático” a forma como Donald Trump vem tratando presidentes e outros líderes mundiais no Salão Oval da Casa Branca.
O episódio mais emblemático envolveu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
A matéria me chamou atenção porque a cena era constrangedora e, ao mesmo tempo, reveladora. Mas não foi só o episódio em si que me interessou. Foi o nome que deram a ele: bullying.
Na hora, pensei: isso tem outro nome. Isso é persuasão coercitiva.
Terminei o carrossel e percebi que o tema merecia virar artigo, mais do que um simples post nas redes. Não só pelo episódio do Trump, mas porque persuasão é um tema que atravessa tudo o que eu faço.
Está nos meus cursos, treinamentos e nos conteúdos que compartilho com políticos, gestores e lideranças. Falar de persuasão faz parte do meu trabalho pessoal e no Instituto Perillo. Mas quase ninguém fala dessa face menos conhecida e mais sombria: a coercitiva.
Persuasão coercitiva é quando a influência deixa de ser uma espécie de convite e vira uma pressão. É quando a tentativa de convencer se apoia não na razão ou na emoção, mas no medo, no constrangimento e na ameaça. Às vezes sutil. Quase sempre, não.
É quando o diálogo sai de cena e o que entra é a lógica do “ou cede, ou perde”.
Foi o que Trump fez com Zelensky. Numa reunião com jornalistas presentes, ele questionou o posicionamento da Ucrânia, insinuou culpa pela guerra, colocou o apoio dos EUA na balança e forçou um tipo de submissão simbólica. A cena foi descrita como “tensa”, mas eu diria que foi estrategicamente desconfortável.
E mais: é um padrão que se repete. Com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ele também usou humilhação pública e pressão econômica para dobrar resistências.
Esse tipo de tática não é novo, nem exclusivo de Trump. Acontece na política internacional, nas articulações partidárias, nos bastidores do Congresso e até em prefeituras e câmaras pelo interior do país.
E costuma vir disfarçado: “pressão legítima”, “conversa dura”, “costura política”. Mas quando envolve chantagem, isolamento, ameaça de perda de recursos ou humilhação pública, o nome muda. É persuasão coercitiva.
E fica o meu alerta: ela pode até funcionar no curto prazo, mas mina relações no médio e destrói reputações no longo. E pior: afasta a política daquilo que ela deveria ser: um espaço de convencimento e construção.
Sim, eu defendo a persuasão. Estudo, ensino e pratico. Mas persuadir não é coagir. É influenciar sem precisar intimidar. É criar adesão verdadeira, não obediência forçada.
É por isso que esse tema precisa ser debatido. Se a gente não souber diferenciar uma coisa da outra, vamos aplaudir quem vence gritando e desprezar quem convence pensando e emocionando.
Ps: mais um textículo ilustrado com ajudinha da IA.