Cíntia Loureiro escreve artigo em que reflete sobre o papel de primeiras-damas ao mencionar o caso de Janja no G20, destacando que sua fala que “desviou o foco” do evento, ressaltando a importância de apoiar sem assumir protagonismo na gestão pública.
Sou arquiteta e tenho a minha empresa. Meu marido nunca se meteu com meus clientes, mas sempre esteve ao meu lado, me apoiando e me ajudando nas minhas decisões.
Seis anos fui primeira dama de Florianópolis. Nem sempre concordei com as decisões e atitudes do meu marido. Mas sabia que aquele era o trabalho dele. Não o meu. Meu papel era apoiar, acompanhar.
Sim, discutíamos muito em particular, ele sempre me ouvia, levava muito em consideração minhas ideias e opiniões.
Fui muito atuante, construí um legado, mas, sempre em concordância com os rumos que o prefeito escolhia.
Janja, a primeira dama do Brasil, no encontro do G20 chamou para ela as atenções em um discurso de improviso. Desvirtuou o objetivo do evento. Causou constrangimento. O presidente se viu obrigado a tentar remediar as declarações dela.
Não importa se estava certa ou não. O fato é: não cabia a ela essa iniciativa.
A primeira dama tem um papel difícil. Deve colaborar, mas não pode, nunca, querer ser a protagonista da gestão.
Não é uma questão de gênero, mas de hierarquia. Se fosse um “primeiro cavalheiro”, a regra seria a mesma. Quem manda é aquele que foi eleito para o mandato. Seja homem ou mulher. O companheiro, o nome já diz, deve acompanhar.
Para uma mulher moderna e de personalidade, isso é dificílimo, me rendeu muitos cabelos brancos. Por muitas vezes me senti amordaçada.
Mas, querendo ou não, esse é o papel a ser feito.
Se eu puder dar um conselho para as(os) outras(os) primeiras(os) damas ou cavalheiros do mundo a fora, seria: Vivam segundo o dito popular: Muito ajuda quem não atrapalha.
Cíntia Loureiro é arquiteta e ex-primeira-dama de Florianópolis entre 2017 e 2022.
