Uma conversa entre Paulo Freire e Roberto Campos. Por Léo Mauro Xavier Filho

Artigo de Léo Mauro Xavier Filho, empresário.

À primeira vista, colocar Paulo Freire e Roberto Campos na mesma conversa parece heresia intelectual. De um lado, o educador que falava em libertação, consciência crítica e transformação social; do outro, o economista liberal que defendia disciplina fiscal, abertura de mercados e protagonismo da livre-iniciativa. Seriam polos inconciliáveis? Talvez não. Talvez sejam, na verdade, forças que, unidas, podem ajudar a repensar o Brasil.

​Freire acreditava que a educação deveria formar sujeitos ativos, capazes de questionar o mundo e transformá-lo. Campos via no empreendedorismo e no mercado aschaves para liberar energias criativas, gerar riqueza e distribuir oportunidades. Ambos, em planos distintos, falavam de protagonismo humano. Para Freire, o cidadão não podia ser um espectador da história. Para Campos, o indivíduo não podia ser refém de um Estado paternalista e ineficiente.

​O ponto de convergência está na noção de que ninguém deve ser prisioneiro da dependência. A dependência pode vir da ignorância, como alertava o pedagogo, ou do excesso de tutela estatal, como denunciava Campos. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: pessoas passivas, sem condições de criar futuro. Claro que divergiam profundamente. Freire enxergava no Estado um ator fundamental para garantir inclusão e justiça social. Campos, ao contrário, via o Estado como um entrave, que precisava recuar para abrir espaço à liberdade econômica. Mas se mirarmos além da dicotomia, podemos construir uma síntese: uma sociedade que educa para a consciência crítica e que, em simultâneo, confia na liberdade econômica para multiplicar oportunidades.

​O Brasil precisa tanto da pedagogia da esperança ativa de Paulo Freire quanto da disciplina liberal de Roberto Campos. Educação sem dinamismo econômico pode gerar frustração. Mercado sem consciência crítica pode gerar desigualdade. Mas juntos, esses dois vetores podem nos empurrar para um país onde a cidadania se traduz em autonomia, e a economia serve de instrumento para que cada pessoa realize seus projetos de vida.

Talvez esteja aí a resposta ao nosso tempo polarizado: deixar de ver as ideias como trincheiras opostas e começar a enxergá-las como peças complementares de um mesmo quebra-cabeça.

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