Unificar as eleições é um erro. Por Leonardo Alegri

Por Leonardo Alegri é jornalista e CEO do Conecta Gabinete.

O Congresso Nacional está debatendo uma ampla reforma eleitoral — considerada por muitos como a mais significativa dos últimos anos. Entre os principais pontos em discussão estão o fim da reeleição para cargos do Executivo, o aumento dos mandatos para cinco anos e, talvez o mais controverso, a unificação das eleições.

À primeira vista, a proposta parece trazer vantagens: acabar com a reeleição evitaria o uso da máquina pública como trampolim eleitoral; mandatos de cinco anos poderiam oferecer mais estabilidade e planejamento; e a unificação dos pleitos representaria uma economia relevante para os cofres públicos. No papel, tudo soa coerente e eficiente.

Mas, na prática, a realidade é bem diferente — e perigosa.

Se essa proposta avançar, a partir de 2034 iremos às urnas em um único dia para escolher oito cargos: Presidente da República, dois senadores, governador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador. A tradicional “colinha” vai virar um verdadeiro colão eleitoral.

O que deveria ser um momento de consciência democrática e reflexão profunda sobre o futuro da nossa cidade, do nosso estado e do nosso país se transformará em um turbilhão de informações, campanhas e interesses conflitantes.

Com a unificação, o debate municipal será engolido pela pauta nacional. O morador do bairro deixará de discutir os problemas da rua onde mora, o transporte coletivo, a falta de vagas em creches — para se perder nas grandes narrativas das campanhas presidenciais.

Prefeitos e vereadores — os políticos mais próximos da população e diretamente responsáveis por serviços essenciais como a saúde básica, a educação infantil, a segurança local e a infraestrutura urbana — perderão espaço no imaginário do eleitor. Serão ofuscados por figuras nacionais e por disputas ideológicas distantes da realidade cotidiana.

O risco é claro: a eleição municipal, que já enfrenta baixos índices de engajamento, será ainda mais esvaziada. A política local se tornará refém dos grandes partidos, das coligações de ocasião e dos interesses que, muitas vezes, ignoram as necessidades reais da comunidade.

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