Upiara Boschi analisa a disputa pela prefeitura de Florianópolis no período entre as filiações e o início oficial da campanha eleitoral, marcado por rumores e pesquisas nas registradas que buscam alavancar ou desestabilizar as pré-candidaturas.
A formatação do calendário eleitoral criou um vazio entre o período de filiações de possíveis candidatos, encerrado em abril, e a campanha eleitoral propriamente dita e legalizada, com pedido de voto e propaganda explícita, que só começa após o registro das candidaturas, em agosto. Esse vazio preenche-se com pré-campanha, pesquisas não registradas e muitos rumores de lideranças trocando de barco.
A disputa em Florianópolis está nesse estágio. A demarcação das raias da disputa, no período de filiações, consolidou a pré-candidatura à reeleição do Topázio Neto (PSD) em uma arranjo que inclui o PL do governador Jorginho Mello com direito à indicação do companheiro de chapa e um comboio de partidos que reúne, até agora, MDB, União Brasil, Republicanos e Podemos.
O fator Gean Loureiro
Nas últimas semanas, o combo que soma rumores e pesquisas não registradas afetou a mais consolidada das pré-candidaturas em Florianópolis. Nesse caso, os rumores de que o ex-prefeito Gean Loureiro (União), principal cabo-eleitoral de Topázio, estaria descontente com rumos e ocupação de espaços na gestão que entregou ao atual prefeito quando renunciou em 2022 para concorrer a governador.
Rumores estes que se somaram à pesquisa que mostrou Dário Berger (PSDB), ex-prefeito, ex-senador e ex-aliado de Gean, com números bastante competitivos para a disputa. Especialmente se a dupla reatasse – Dário sinalizou esse desejo na entrevista que concedeu no Cabeça de Político.
Em público, Gean diz que não há descontentamento e repete o mantra de que só não estará com Topázio se Topázio não quiser. Mas os bastidores (e, às vezes, as redes sociais da ex-primeira-dama Cíntia Loureiro) indicam outra direção.
Topázio e seu entorno trabalham com os cenários com e sem Gean, sem desdenhar do peso eleitoral do ainda aliado. Se ele pudesse concorrer a prefeito pela terceira vez após as vitórias de 2016 e 2020, o cenário de favoritismo de Topázio não seria o mesmo verificado hoje.
Esse morde e assopra também é verificado à esquerda. Rumores e pesquisas não registradas, ao sabor do contratante, avaliam o potencial das pré-candidaturas do deputado estadual Marquito (PSOL) e do ex-vereador Lela (PT).
A disputa de PT e PSOL em Florianópolis
A esquerda de Florianópolis troca afagos e farpas de olho em um espólio que chegou a 20% dos votos nas eleição municipal de 2020, quando os principais partidos se aliaram em torno de Elson Pereira (PSOL), e que almeja um teto de 46,6% dos votos de Florianópolis – marca alcançada pelo presidente Lula (PT) no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno entre os eleitores da Capital.
A volta de Lula ao poder é vista por setores do PT como a oportunidade para recuperar o espaço perdido para o PSOL – dono de três cadeiras na Câmara de Vereadores contra apenas uma dos petistas. A candidatura própria seria esse instrumento.
Assim, as pesquisas não registradas surgem como argumento pela divisão e pela união. Nas pesquisas dos petistas, Marquito e Lela estão em um pelotão afastado de Topázio, líder disparado, e Dário, como opção competitiva. Nesse cenário, de construção, não valeria a pena endossar o pré-candidato do PSOL.
Em contraponto, o PSOL nacional encomendou pesquisa em Florianópolis e outras seis cidades em que vê potencial em suas pré-candidaturas – o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, a principal delas. Nesse levamentamento, também não registrado, Marquito e Dário disputam o segundo lugar voto a voto, dentro da margem de erro.
É o cenário em que a pré-candidatura de Lela serviria apenas para tirar o nome mais competitivo das esquerdas do segundo turno. Mais ou menos como aconteceu em 2012, quando o crescimento de Elson Pereira determinou a saída de Angela Albino (PCdoB) de um segundo turno disputado entre Cesar Junior (PSD) e Gean Loureiro.
Na esquerda, todo mundo tem um bom argumento para a divisão. Os defensores da unidade é que andam calados.
Nesse cenário de rumores e pesquisas não registradas, Pedrão Silvestre (PP) vai fazendo seu jogo de outsider. Em suas pesquisas está em segundo, nas dos outros o desempenho piora – como acontece com todos os pré-candidatos.
Será um longo e frio outono até o encaixe completo de alianças e candidaturas.
Foto: Centro histórico de Florianópolis em uma noite de outono.
Crédito: Ricardo Wolffenbüttel, Secom-SC.