A vacinação de crianças foi tópico de um dos momentos mais bonitos da história política de Santa Catarina. Quando governador, em 1980, Jorge Bornhausen trouxe ao Estado o próprio Albert Sabin para liderar a saúde catarinense em uma campanha pela vacinação contra a poliomielite. Santa Catarina venceu. Foi exemplo para o para o país e o mundo.

A partir deste 2024, no entanto, a façanha de 1980 talvez não seja mais a primeira lembrança quando se falar de vacinação infantil em Santa Catarina. Uma série de vereadores, prefeitos e até o governador apresentam propostas e tomam medidas contra a inclusão por parte do governo federal da vacina da Covid como obrigatória para crianças – na lista que inclui, entre tantas, a própria imunização contra poliomielite que citei no começo do texto.

Alguns desses políticos são ignorantes mesmo. Outros, não. Sabem que tomam medidas que não têm nada a ver com saúde pública ou preocupação com as crianças. É a mais medrosa geração de políticos de Santa Catarina.

O medo é da força eleitoral do bolsonarismo, que rejeita a vacinação contra a covid. Com esse tipo de gesto, eles buscam o aplauso, o like, o engajamento na rede sociais. Um dia estudaremos uma geração de líderes que não liderava, que era conduzida por comentaristas de rede social.

Este texto não é uma crítica, não tem a expectativa de que uma frase ao estilo “o rei está nu” faça cair em si a consciência de uma geração de líderes que não disse a que veio. Cabe apenas a lembrança de que a demonização da vacina da covid por parte do ex-presidente e de seus capachos fez cair drasticamente a vacinação das crianças para outras doenças – como a poliomielite

Isso será cobrado no futuro.

Esperamos que uma nova geração de políticos saiba lidar com os problemas que esta geração pode gerar. Que 1980 volte a ser exemplo, que 2024 seja esquecido. Enquanto isso, resta passar vergonha. Eu sei que muitos dos que assinam esses decretos estão envergonhados também.

Arte: Galvão Bertazzi.