Vinho Verde: o que aprendi depois de provar 20 rótulos em sequência

Eu realmente acho os vinhos verdes portugueses subestimados. De cara, levam à ideia de vinhos leves e meio frisantes, mas reduzir a categoria a isso é deixar de lado uma riqueza muito maior.

Na última semana, participei de um evento promovido pela Wines of Portugal em Florianópolis, tive a chance de mergulhar na diversidade da Denominação de Origem Vinho Verde. Foram 20 rótulos provados em sequência.

Dessa experiência intensa e deliciosa, trago informações para quem também deseja se aventurar por essa região que é uma das maiores portas de entrada para o vinho português.


1. Vinho Verde é uma Denominação de Origem

A primeira coisa importante de saber: vinho verde não é um tipo de uva, nem um estilo específico. É uma Denominação de Origem (DO), que delimita não só a localização dos vinhedos, mas também as regras de produção, como o tipo de uvas autorizadas e os métodos de vinificação (dá uma olhadinha aqui no site deles).

A DO Vinho Verde está localizada no noroeste de Portugal, na região do Minho, uma área que começa perto da cidade do Porto (que, aliás, faz parte da região do Vinho Verde) e vai até a fronteira com a Espanha. Neste espaço, temos nove sub-regiões com diferentes altitudes, climas e exposições ao oceano Atlântico. 

Essa diversidade geográfica, somada ao clima úmido e fresco, confere aos vinhos características marcantes: acidez vibrante, leveza, teor alcoólico geralmente baixo (muitas vezes abaixo de 12%) e, em muitos casos, um leve frisante.

São mais de 1.400 marcas registradas e 45 tipos de uvas permitidas. E dentro dessa grandeza, mora uma diversidade que vai muito além do que imaginamos.

2. Uvas que você não encontra em nenhum outro lugar do mundo

Durante décadas, boa parte do mundo do vinho foi tomada por certa “chardonnização” — um movimento em que produtores escolheram cultivar variedades internacionais de mais fácil adaptação aos diferentes climas e solos, como é o caso da chardonnay. É por isso que você encontra chardonnays em quase todas as regiões produtoras de vinhos do mundo. 

Portugal seguiu outro caminho. Preferiu apostar em suas castas autóctones, ou seja, uvas nativas, profundamente adaptadas ao solo, ao clima e à cultura do país. É isso que torna o vinho português, de forma geral, tão original. E o Vinho Verde é um grande exemplo dessa escolha.

Entre as castas autóctones estão nomes que soam exóticos para a maioria dos brasileiros: Loureiro, Avesso, Arinto, Trajadura, Azal, só para citar algumas das brancas. Cada uma entrega um estilo próprio de frescor, fruta, mineralidade, corpo e acidez.

Para mim, essa aposta na identidade local é um verdadeiro convite à descoberta. 

3. Não é só branco: tem tinto e rosé também

Os vinhos brancos dominam e são, sem dúvida, a porta de entrada para a região. Mas o Vinho Verde vai além.

Das 45 castas autorizadas na Denominação de Origem, quase metade são tintas. Entre elas, nomes como Vinhão, Espadeiro e Borraçal, que dificilmente aparecem em outras partes do mundo.

A produção de tintos, no entanto, ainda é pequena — menos de 10% do total — e grande parte é consumida localmente. Por isso, não é tão comum encontrá-los no Brasil, o que é uma pena: são vinhos leves, vibrantes e com perfil frutado, que lembram até um Gamay ou um Beaujolais jovem, como no caso do Vinhão que provei no evento.

Ah, e os rosés também merecem atenção, entregando frescor, fruta e um charme extra para dias quentes.

4. Os portugueses são os reis do blend, mas os varietais também brilham

Uma das marcas do vinho português sempre foi a arte do corte. A tradição de fazer blends (vinhos elaborados com mais de uma variedade de uva) faz parte do DNA do país e no Vinho Verde não é diferente porque justamente nessa mistura se encontra equilíbrio e complexidade.

Mas uma coisa me chamou a atenção no evento: a quantidade de vinhos varietais (feitos com uma única uva). Provei Loureiros intensamente aromáticos, Avessos com textura, Alvarinhos precisos… Cada um com um perfil bem definido, mostrando o que cada variedade pode oferecer sozinha.

É bonito ver como os produtores estão apostando tanto na tradição quanto na valorização da identidade de cada casta, algo que só reforça a riqueza da região.

5. Um ótimo custo-benefício para o verão

Com tanta diversidade e frescor natural, os vinhos verdes seguem sendo uma excelente escolha para o verão brasileiro. Aqui, três opções que provei no evento e que você pode encontrar em grandes redes de supermercado de Santa Catarina – com preços entre R$40 e R$ 60 – e não se arrepender de experimentar:

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