Violência política de gênero em Joinville! Por Ana Lucia Martins

Ana Lucia Martins escreve artigo sobre a persistência do patriarcado e do machismo na sociedade, especialmente na política, e como até mulheres autônomas e aparentemente liberadas podem internalizar e reproduzir essas dinâmicas de poder.

O patriarcado está tão enraizado na sociedade que mesmo as mulheres com autonomia, inteligência e aparentemente livres, se deixam dominar pela mesma lógica do poder e individualismo.

O ego não se sobrepõe por acaso na formação de algumas personalidades ou de seu caráter. É inato aos seres humanos o desejo do poder e portanto de um ego forte, que para alguns parece uma ótima característica de liderança, porém não se encaixa nas lutas coletivas por um interesse maior, muito além do estrelismo e brilho pessoal.

A disputa política sempre foi marcada pelo machismo, não por acaso somente aos homens era permitido a disputa eleitoral e até mesmo o direito de votar. Somente em 1932 as mulheres conquistaram o direito de votar e serem votadas com algumas excessões e restrições.

O controle do patriarcado branco determinou quais mulheres teriam o direito de votar, essas, precisavam ser casadas e alfabetizadas, o que excluía mulheres negras e pobres, que não eram escolarizadas e nem casadas.
A conquista do voto das mulheres se deu paulatinamente, por meio da luta feminista.

O feminismo contrapõe o patriarcado e o machismo que são formas de controle e manutenção do poder sob as mãos e corpos de homens brancos e de classe média, embora o machismo esteja profundamente entranhado nos homens negros e de outras classes.
O feminismo como política de igualdade ainda não é suficiente para o pensamento e ações de mulheres para manter ou construir o seu poder lançam mão das práticas do patriarcado e do machismo.

Não é raro perceber o modus operandi machista reproduzido por mulheres que inclusive se autodenominam feministas. O feminismo nasce com suas divisões de classe e raça, portanto se estrutura nas relações e disputas de poder e controle também entre as mulheres.

Às vésperas das eleições é nítida a forma como essas disputas se estabelecem, o modo rasteiro e desonesto (há quem chame de jogo político) usado para desestruturar candidaturas em detrimento de outras , reforçando o patriarca presente ou ao qual se submetem algumas mulheres, unidas a outros homens que naturalmente agem dessa forma, em todos os contextos históricos e políticos que alimentam o consciente da natureza da superioridade que lhes conferem a masculinidade.

A violência política de gênero ganha cada vez mais dimensão e visibilidade. Silenciosa, explícita, estruturada, individual e coletiva a violência política de gênero se naturaliza ou é invisibilizada nas armadilhas que tentam deslegitimar as mulheres diante das denúncias.

No interior dos partidos as mulheres são estimuladas a disputarem entre si, retocadas pelas correntes e a dominação de grupos que detém o poder sobre esses partidos, nunca de forma ingênua ou despretensiosa, pelo contrário, algumas mulheres ainda se apoiam no machismo e nos homens para alcançarem o poder.

Ombreadas com homens que detém o poder e lhes cercam de autoridade emprestada, as mulheres dispensam qualquer sororidade feminina ou feminista em troca de poder.

A realidade só não é pior, porque mulheres ainda resistem e defendem modos diferentes de fazer e ser política.

Sojourner com a sua frase “e eu não sou uma mulher” questionando as diferenças com que algumas mulheres eram tratadas em relação as outras, fala desses marcadores sociais que nos diferenciam para dividir.


Ana Lucia Martins é a primeira vereadora negra eleita em Joinville.

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