Virada Científica: Brasil desvenda “chave” do Alzheimer e abre rota para novo tratamento

O Alzheimer pode estar prestes a ter seu mecanismo de progressão reescrito, graças a uma descoberta de ponta vinda do brasil. O neurocientista Eduardo Zimmer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), liderou um estudo que não apenas sugere, mas demonstra, que a inflamação cerebral é uma condição necessária para que a doença avance.

Segundo projeções amplamente citadas pelo Ministério da Saúde e divulgadas por fontes como a Agência Gov e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o número de pessoas afetadas pela doença de Alzheimer no Brasil é estimado em 1,2 milhão. Esta tendência de aumento é um reflexo direto do envelhecimento populacional, que é o principal fator de risco para a doença neurodegenerativa. A magnitude do problema impõe um desafio crescente ao Sistema Único de Saúde (SUS), que busca oferecer tratamento especializado para garantir a qualidade de vida dos pacientes e suporte para suas famílias.

O artigo, publicado na prestigiada revista científica Nature Neuroscience, é considerado um avanço porque:

O Avanço Científico: O diálogo inédito em pessoas vivas

O grande salto da pesquisa é ter comprovado em pacientes vivos uma interação celular que só era vista em modelos animais ou em cérebros post-mortem. Esse achado foi possível graças à utilização de exames de imagem de última geração e biomarcadores ultrassensíveis, ferramentas cruciais para a neurociência moderna.

Os cientistas confirmaram que o acúmulo das proteínas tóxicas tau e beta-amiloide (os “grumos insolúveis”) só causa a destruição da comunicação neuronal quando há um “diálogo inflamatório” simultâneo entre duas células cerebrais, responsáveis pela resposta imune no cérebro:

  • Microglia (células de defesa): devem estar ativadas, indicando um estado reativo e inflamatório.
  • Astrócitos (células de suporte): só se associam às proteínas tóxicas se a microglia estiver reativa.

Em outras palavras, sem essa dupla ativação inflamatória, a doença não consegue progredir. O estudo conseguiu, com base nesses marcadores, explicar até 76% da variação no declínio cognitivo dos pacientes, correlacionando a inflamação com a gravidade da doença.

A nova rota para o tratamento

A descoberta tem implicações diretas para o desenvolvimento de fármacos:

  • O paradigma antigo focava em desenvolver medicamentos para apenas “limpar” as placas de beta-amiloide.
  • A nova perspectiva sugere que será fundamental desenvolver terapias que consigam interromper a comunicação entre a microglia e os astrócitos, acalmando a inflamação cerebral e, assim, freando a progressão da doença.

Como resumiu o professor Zimmer, a ideia é que “além de tirar as ‘pedrinhas’, vamos precisar acalmar essa informação no cérebro, acalmar esse diálogo entre as duas células.”

Fatores de Risco e Prevenção

Embora o estudo não aponte a causa exata das placas, ele reforça que o risco de desenvolver Alzheimer é influenciado pelo expossoma (a combinação de genética com fatores ambientais e hábitos de vida). Os fatores de risco citados incluem tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e obesidade. Em contrapartida, a prática de atividades físicas, boa alimentação, qualidade do sono e estímulo intelectual são estratégias protetoras.

A pesquisa brasileira contou com o apoio essencial do Instituto Serrapilheira e reforça o papel do país na vanguarda do conhecimento sobre doenças neurodegenerativas.

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