Há dez anos, em 8 de julho de 2014, nós, os brasileiros, vivenciamos a mais vergonhosa derrota da seleção brasileira masculina de futebol. Foi no Mineirão, em Belo Horizonte. Alemanha 7 x 1 Brasil.
Espera aí. Eu escrevi, no título, que este não seria um texto sobre futebol. E não é mesmo. No máximo, aquela derrota pode nos servir para algo: compreender que não somos os melhores do mundo faz tempo.
E nem mesmo mais no futebol. A era das verdades se escancara. Temos de olhar para a nossa sociedade. E perceber que a cada dia estamos perdendo.
Perdendo porque os problemas coletivos de saúde pública, de serviço de transporte coletivo deficiente, a qualidade do ensino nas escolas públicas são muito piores do que deveria ser, porque a (in)segurança pública continua perseguindo a todos, porque as desigualdades de renda seguem exageradas, porque num país tão rico e diverso já não há, mais, campinhos de futebol para crianças e adolescentes jogar bola.
E isso não é sobre jogar bola. É sobre dignidade. Capacidade das pessoas evoluírem, de se tornarem cidadãs plenas. Na prática, cada um dos brasileiros olha para o lado e não enxerga ninguém para passar a bola. E ninguém aparece no gramado da vida para ser seu mentor rumo ao desempenho que qualifica os melhores e os mais aptos a conseguir o sucesso.
As lágrimas derramadas há dez anos são incomparavelmente menos importantes do que aquelas vivenciadas dia-a-dia, por todos.
Os 7×1 do Mineirão são uma metáfora para desnudar a incapacidade de liderança, de nosso medo de vencer, de nosso descompromisso com o todo. Assim, se somos um grupo de indivíduos, mas não somos uma equipe, fica clara a impossibilidade de ganharmos. Tanto no futebol, como na vida.