Topázio Silveira Neto (PSD) era praticamente um desconhecido junto ao eleitorado de Florianópolis quando assumiu o cargo de prefeito em 31 de março de 2022, quando o eleito Gean Loureiro (União Brasil) renunciou ao cargo para encarar a disputa pelo governo do Estado. Assumia um mandato curto com o desafio de ser um discreto cabo eleitoral durante a disputa estadual e a promessa de que teria condições, mesmo que em pouco tempo, de viabilizar-se como candidato à reeleição. Pouco mais de um ano depois, Topázio conseguiu se tornar um personagem da cidade e tem condições de se apresentar eleitoralmente como alguém que é mais do que uma sombra do ex-prefeito.
O maior teste político que o prefeito florianopolitano enfrentou foi vencido na noite de quinta-feira, quando foi derrubada a liminar que impedia a protocolar votação na Câmara de Vereadores da redação final da já aprovada revisão do Plano Diretor. Em poucas horas, as polêmicas alterações foram aprovadas em sessão extraordinária, o projeto de lei complementar foi sancionado por Topázio Neto e o texto foi publicado no Diário Oficial do Município. Estava vencida um longa batalha em que os únicos obstáculos vieram através de liminares judiciais a pedido do Ministério Público Santa Catarina e da organizada, mas extremamente minoritária no parlamento municipal, militância de esquerda.
Ao lado de Topázio, além da base política que herdou de Gean Loureiro e até aumentou, estavam as principais entidades econômicas de Florianópolis e, especialmente, o setor de construção civil. Ao liderar a aprovação das mudanças no Plano Diretor, mesmo com alguns percalços, ele conquistou setores importes para o projeto de reeleição e conseguiu assumir de vez a condição de prefeito – e não mero fantoche do ex-prefeito. É possível que Topázio tenha conseguido aprovar o Plano Diretor com mais votos do que teria Gean na condução do processo. E mais importante que isso, o projeto foi aprovado sem nenhuma emenda – foram 320 modificações aprovadas em 2012, quando a versão original foi aprovada na gestão de Cesar Souza Junior (PSD).
Apenas os quatro vereadores de partidos de esquerda votaram contra proposta: Afrânio Boppré, Cíntia Mendonça e Tânia Ramos, do PSOL, e a petista Carla Ayres. Esse desenho também é uma vitória política para Topázio, porque conseguiu apresentar para a parte mais interessada em narrativas do que em detalhes do plano que se tratava de mais uma das infindáveis disputas polarizadas entre direita e esquerda.
No cenário político de Florianópolis, o bolsonarismo não é tão hegemônico quanto no interior do Estado e não existem lideranças naturais do PL para uma disputa pela pela prefeitura. Por isso, é importante para Topázio aparecer como antagonista da esquerda. Pavimenta-se, assim, um cenário de polarização natural entre a candidatura dele e a do deputado estadual Marquito (PSOL) – se a esquerda da Capital estiver mais preocupada com as eleições do que com seus umbigos, obviamente.
É importante observar como este momento fecha um ciclo. Topázio é o prefeito e é o candidato. A disputa se abre pela vaga de vice, onde Gean Loureiro lançou o nome do vereador Ed Pereira (União Brasil) como nome de continuidade para a aliança. Nos bastidores surgem nomes como o da vereadora Maryanne Mattos (PL), caso o prefeito se aproxime do governador Jorginho Mello (PL), ou até do ex-deputado estadual João Amin (PP), caso aceite os flertes do senador Esperidião Amin. São cenários pouco prováveis. Por mais que Gean não tenha participado das articulações políticas que resultaram na aprovação do Plano Diretor, ainda é um liderança política importante para ser deixada solta no tabuleiro da Capital – ele não pode concorrer, mas pode ajudar a viabilizar uma alternativa hoje sem nome.
O personagem Topázio já está no imaginário da cidade – inclusive quem o odeie, que faz parte do processo. Muito disso é fruto do uso das redes sociais em que ele é o verdadeiro garoto-propaganda da gestão. Ele segue a fórmula usada por Gean no primeiro mandato, mas se a carga de já ser uma figurinha carimbada da política quando criou a persona digital. Pelo interior do Estado, os vídeos de Topázio tem chamado atenção de prefeitos, interessados nos resultados. E Florianópolis, que tanto tenta se colocar como a capital brasileira do setor de inovação, tem um prefeito tiktoker.
Sobre a foto em destaque:
Topázio Neto apresenta ações da prefeitura em Florianópolis em vídeo que imita estilo do jornalístico Globo Repórter. Foto: Reprodução.