Por Manu Vieira
Florianópolis é terceira capital que mais cresceu em população segundo o Censo de 2022. E um dos principais motivos para uma cidade crescer é o seu mercado de trabalho e o potencial de oferecer uma boa qualidade de vida para quem procura oportunidade. O desafio na cidade, contudo, não é encontrar trabalho, em especial, aqueles que exigem mão de obra mais qualificada.
O maior desafio é morar perto do trabalho. Florianópolis parece cada vez menos acessível a quem quer começar a vida por aqui.
A expansão das cidades não requer terra, mas área construída, por isso, é inegável a influência do mercado. Segundo Alain Bertaud, os mercados moldam cidades mediante os preços do terreno. É espantoso o exercício de procurar um imóvel para alugar e encontrar um pequeno apartamento no Norte da Ilha – berço de parques tecnológicos – custando facilmente 50% da renda de um trabalhador iniciante do ramo.
Não à toa, é possível dizer que o pulmão da tecnologia reside em bairros da cidade vizinha, São José.
A alta demanda por localizações específicas cria enormes diferenças nos preços de moradia. Uma demanda muito alta por área construída pode gerar edifícios altos, já que o preço da terra é elevado, e edifícios baixos onde a terra é mais barata. É claro que isso pode ser modificado com legislações restritivas, que limitam o aproveitamento da terra mesmo quando cada metro quadrado é caríssimo.
Na maioria das cidades – e em Floripa – esse preço pode ser mais alto na zona central por uma possibilidade de deslocamento dos trabalhadores por um preço mais baixo e um tempo mais curto. E aqui começa a matemática do “onde morar”.
O preço do transporte, medido em tempo e dinheiro gasto, tem sido tradicionalmente um dos maiores configuradores da forma urbana. O final do século XIX trouxe a introdução de vários meios de transportes urbanos mecanizados e permitiu velocidades de deslocamento mais altas e custos mais baixos. Depois do primeiro metrô construído em Londres (1862), diversas metrópoles pelo mundo copiaram o sistema com sucesso.
A inclusão do transporte mecanizado, segundo Bertaud, nos trouxe mudanças drásticas:
- Promoveu mais áreas acessíveis em uma viagem de uma hora e, assim, aumentou o tamanho do mercado de trabalho;
- Aumentou o tamanho do mercado de trabalho, elevando o preço da área central;
- a produção em massa do automóvel (1930), trouxe carros acessíveis à classe média e aumentou ainda mais o raio de alcance das cidades, proporcionando rápido acesso às áreas ainda não cobertas pelas redes de trem suburbano.
Hoje, escolher o bairro de Florianópolis o mais perto do trabalho possível é quase essencial, afinal, nosso transporte coletivo (apenas o ônibus por aqui) pode até ter um custo aceitável, mas falha miseravelmente em entregar eficiência quando falamos em tempo de deslocamento. Isso gera uma enorme dependência do transporte individual, o que resulta não só em trânsito, mas também em alto custo com automóvel, gasolina e estacionamento.
Aos gestores públicos, um aviso: é fundamental investir em soluções estruturantes para o transporte coletivo e melhorar essa relação de moradia e trabalho. Ou, corremos o risco do IPTU de Floripa ir cada vez mais para as cidades vizinhas por causa da fila.
Manu Vieira (PL) é vereadora em Florianópolis.