Um pouco do Brasil brasileiro está na letra chiclete da música “Nóis vai descer, vai descer lá pra BC”.
Moradores de Balneário Camboriú (BC) não gostaram e criticaram as milhares de piadas e comentários negativos sobre a cidade que circulam na internet e redes sociais.
O que diz a letra da música de Brenno e Matheus?
“Papai deixou uma herança bem gorda pra mim.
Tem terra pra plantar e pra criar uns gadin.
Mas eu me dei conta que isso não é pra mim.
Prefiro pé na areia a pé no capim.”
O que há de errado nisso? Além, claro, da pobreza melódica e da inteligente ironia contida nas estrofes, moradores de BC enxergaram na canção uma “campanha de ódio” contra a cidade. Muitos reagiram publicando desagravos nas redes sociais para se contrapor ao que consideraram um ataque.
Faz parte. É da democracia a exposição de opiniões divergentes.
Mas por que Balneário Camboriú atrai tanta atenção?
• Por ter o prédio mais alto da América Latina?
• Por Neymar ter apartamento de luxo lá?
• Por Cristiano Ronaldo ser sócio de um prédio de altíssimo padrão?
• Por ter o metro quadrado mais caro do Brasil?
• Porque os super ricos desfilam com seus super carros na Avenida Atlântica toda tarde?
• Por suas lanchas e iates de dezenas de pés ancorados na marina?
• Por seus restaurantes caríssimos que cobram a peso de ouro?
• Por seus imóveis que valem mais de R$ 30 milhões?
Tudo isso compõe a paisagem urbana e social da mais famosa praia do Sul do país.
Este retrato, embora parcial, reflete a verdade de um estrato social pequeníssimo, mas dominante econômica e politicamente: a elite, formada por menos de 0,5% da população brasileira, que adora demonstrar poder.
O marketing frequentemente compara BC a Dubai, o destino turístico mais chique do mundo atualmente. E parte dessa elite, dona de impérios de bois e outros negócios, “vai descer, vai descer pra BC”.
Porém, BC vai além do glamour elitista.
Outras características são facilmente percebidas:
• Para chegar à cidade, é necessário enfrentar horas de filas na congestionada BR-101.
• O trânsito dentro de BC é absolutamente caótico.
• Os preços, seja de comida em supermercados ou em restaurantes, são proibitivos para o “morador comum”.
BC também se consolidou como um ponto focal do bolsonarismo, sendo escolhido como destino pelo próprio grupo político-ideológico. Isso dá ainda mais sentido à letra da música, quando pensamos no personagem retratado.
E quem é dono de apartamento em BC?
Quem pode, aluga o imóvel entre dezembro e fevereiro, ganha um bom dinheiro e foge do tumulto.
Ah, BC tem, sim, muito a oferecer:
• Uma praia central alargada.
• Bondinho.
• Roda gigante.
• Shoppings centers.
• Outras praias — algumas lindas, encravadas entre o mar e a montanha.
Mas será que BC precisa de uma música chiclete para alavancar o turismo?
Não. As pessoas chegam naturalmente, enfrentando os desafios típicos do fim de ano.
Entretanto, não basta alcançar o sucesso; é preciso manter o padrão de excelência que tornou o destino um sucesso.
BC faz sua parte e entrega o que os turistas esperam?
Por isso, muita gente “não vai descer, não vai descer pra BC”.