As campanhas no Brasil deixaram de ser uma via de mão única. Em 2024, especialmente nas maiores cidades do país, a vitória nas redes sociais não foi garantida pelos maiores investimentos em mídia paga, mas pela habilidade de incluir o eleitor no processo de construção da comunicação. Candidatos que entenderam o poder de co-criar com o eleitorado conseguiram converter o apoio em um movimento orgânico, fortalecendo o engajamento de forma poderosa.
Casos como os de João Campos, em Recife, Topázio em Florianópolis, André Fernandes em Fortaleza, Boulos e Marçal em São Paulo, e candidatos que disputaram a liderança em Manaus são exemplos claros dessa dinâmica. Não foi a quantidade de anúncios ou a frequência de postagens patrocinadas que impulsionou a adesão online, mas a capacidade de mobilizar a base de eleitores para fazer parte ativa da campanha. Os candidatos que criaram essa “colaboração digital” conseguiram capturar a atenção, inspirar a criação de conteúdo espontâneo e transformar eleitores em verdadeiros mobilizadores. Em uma realidade onde a população é fonte infinita de engajamento, funcionou.
Campanhas tradicionais sempre dependeram do controle rígido sobre a mensagem e a narrativa. No entanto, essas eleições mostraram o poder de abrir mão de parte desse controle e entregar ao eleitorado o protagonismo da comunicação. A ideia é simples: ao colocar o cidadão como participante ativo e criador de conteúdo, a campanha supera o discurso artificial e se torna um movimento recheado de verdade, impulsionado pela própria comunidade.
O impacto é visível quando observamos exemplos como a “Dona Maria” em Recife, que usou as escadas reformadas pela prefeitura de João Campos e compartilhou sua experiência nas redes. Ou o apoiador de Evandro Leitão em Fortaleza, que, ao tirar uma foto com André Fernandes para postar no Instagram, reforçou a mensagem de uma grande onda a favor do candidato. Esses pequenos atos, realizados por pessoas comuns, geram um ciclo de validação e engajamento, onde cada postagem e cada comentário criam uma rede de apoio que, ao final, pode colaborar com a vitória.
Esse ciclo cria uma retroalimentação poderosa. O conteúdo gerado pelo eleitor é repercutido pelas redes do candidato, o que por sua vez gera novos comentários, mais compartilhamentos e, finalmente, inspira mais eleitores a se engajarem, gerando ainda mais conteúdo. A campanha deixa de ser um discurso vertical e se transforma em uma construção coletiva, uma verdadeira “collab” entre candidato e eleitorado.
O que funcionou, de forma geral, nas eleições brasileiras recentes foi a capacidade de transformar campanhas políticas em movimentos, arrastando eleitores para as ruas e fazendo com que eles, por conta própria, gerassem conteúdo para alimentar a rede. Cada mobilização offline (como caminhadas e carreatas, mas não apenas) gera uma nova leva de conteúdo digital, que é compartilhado, comentado e replicado pelas redes e fortalece o movimento offline.
Esse movimento orgânico é capaz de inflar algoritmos e, muitas vezes, de alcançar um público maior do que as próprias postagens oficiais dos candidatos. É a força de cada publicação, cada vídeo ou foto compartilhada pelo eleitor, que constrói um alcance real e espontâneo, fortalecendo o posicionamento do candidato.
Em uma época em que muitos temiam o uso de inteligência artificial, esperavam que disparos em massa e vídeos superproduzidos fossem o caminho definitivo, a realidade foi clara: a mobilização autêntica é o verdadeiro motor de uma campanha vencedora. A força da campanha está em sua capacidade de engajar, de inspirar os eleitores a serem embaixadores de sua mensagem. Em vez de um investimento pesado em anúncios, as campanhas bem-sucedidas se sustentaram na paixão e na autenticidade da base de apoio.
A comunicação política digital não é apenas uma questão de presença em redes sociais; é uma aliança contínua e dinâmica com a população. É um ciclo onde a mensagem inicial do candidato ganha eco nas redes, se espalha pelas ruas e volta para a esfera digital, alimentada por novos conteúdos criados pelos próprios eleitores. Esse ciclo é, em essência, sem fim – uma valsa em que o candidato precisa estar atento e disposto a entregar parte do controle à sua comunidade, permitindo que ela própria inspire e gere novos conteúdos.
Quando o candidato permite que o eleitorado seja o responsável pelo “calor” e pelo engajamento, essa comunidade assume o poder de transformar apoiadores individuais em uma massa crítica. Essa é a verdadeira transformação da comunicação política: permitir que cada eleitor participe do movimento, contribuindo de forma única e autêntica, e ajudando a construir um processo de mobilização que transcende a campanha em si e se torna uma força.
Uma campanha eficaz e colaborativa depende de uma combinação de fatores, entre eles: mídia paga, mobilização de apoiadores, gestão de comunidade, monitoramento de redes, social media, criação de conteúdo e gestão de resposta. Cada um desses elementos desempenha um papel crucial e, em conjunto, formam a base para que o processo de collab seja bem-sucedido.
É impossível pensar em campanhas políticas sérias e eficazes sem colocar a comunicação digital no centro da estratégia. Em vez de enxergar a comunicação como um simples canal de distribuição de mensagem, as campanhas precisam entender que ela é o próprio processo pelo qual o eleitorado se engaja, se conecta e se mobiliza. Isso permite criar campanhas que não apenas buscam votos, mas constroem movimentos capazes de transformar uma eleição.