Por Gean Loureiro
Surpreendente a nossa capacidade de abrir horizontes quando voltamos aos bancos escolares. Nesses últimos meses, cursando gestão pública na Austrália, senti na pele aquilo que sempre defendi: gestores públicos precisam olhar as soluções e desafios ao redor do mundo. Boa parte deles, os desafios, são semelhantes, idênticos, só mudam de endereço.
A Austrália traz muitas semelhanças geográficas com o Brasil, especialmente com Florianópolis quando falamos de orla. E lá, assim como cá, há muito forte o sentimento de pertencimento e proteção ambiental. Mas isso não impediu o desenvolvimento de cidades litorâneas e o avanço da infraestrutura. Marinas, calçadões e infraestrutura à beira-mar aproximam as pessoas, trazem desenvolvimento, renda e emprego. Aqui, pautas ideológicas não deixam sequer uma quadra de esporte se instalar na praia.
Sob o mantra da proteção, a ideologia comanda um processo inverso ao que defende: o excesso de proibição vira invasão e clandestinidade. Por muitos anos, beachs clubs foram taxados de predatórios. Enquanto tornavam Florianópolis internacional, os equipamentos traziam visitantes de alta renda, geravam empregos e, claro, trazendo progresso. Durante toda a minha gestão à frente da prefeitura, defendi a importância desses equipamentos para a cidade. Agora, depois de voltar de viagem, de meses de estudo e conhecendo a relação daquele país com sua orla, tenho ainda mais essa certeza.
Mas Florianópolis deixou de ser aquela cidade do “nada pode”. As pessoas não deixam mais uma minoria tomar as rédeas do futuro da cidade. Prova disso é o início das obras do Parque Marina Beira-Mar Norte nos próximos meses. Foi um trabalho complexo, difícil, cheio de barreiras, mas conseguimos lá atrás aprovar no Tribunal de Contas e fazer a licitação. Uma Marina desse porte, com um Parque totalmente público, colocará nossa cidade em outro patamar turístico. Somos maior parte Ilha, como pode não termos ainda uma marina desse porte? Quantos empregos, quantos novos equipamentos, quantos novos visitantes de alto poder aquisitivo o futuro nos reserva com apenas esse equipamento?
A discussão, a crítica, o contraditório precisam continuar existindo para o bem do nosso desenvolvimento sustentável. Mas precisa ser uma discussão olhando o futuro, não o passado. Precisamos continuar aprendendo o que deu certo ao redor do mundo e também o que deu errado. Pra que repetir erros que já sabemos o resultado? Florianópolis segue no caminho certo porque não quer mais repetir seus erros. Aprender, sempre.
Gean Loureiro (União) é ex-prefeito de Florianópolis (2017-2022) e concorreu a governador do Estado em 2022.