Laranjal de Ed Pereira vai virar suco, mas Operação Presságio não pode parar por aí

Upiara Boschi analisa parte do conteúdo das mensagens que mostram como o suposto esquema de Ed Pereira usou laranjas para desviar recursos que deveriam ir para entidades sociais e avalia que o peso eleitoral do caso vai depender das ações da prefeitura de Florianópolis para blindar o sistema de convênios

Upiara Boschi analisa parte do conteúdo das mensagens que mostram como o suposto esquema de Ed Pereira usou laranjas para desviar recursos que deveriam ir para entidades sociais e avalia que o peso eleitoral do caso vai depender das ações da prefeitura de Florianópolis para blindar o sistema de convênios.

Cara, já pega tudo mundo que é MEI e quem não é MEI vai ter que ser. Se não a gente vai ter que achar uns laranja. Vou botar o Bortoluzzi na missão de achar outros laranja também. Não vai ser aceita avulsa. Vamos ter que transformar todo mundo em MEI. Foda-se, velho. Vamos ter isso bonitinho, quatro meses já resolve a nossa vida. Quatro meses já limpa o dinheiro que a gente precisa.

Essa é a trancrição de um dos diversos áudios que integram o inquérito da Operação Presságio que investiga o suposto esquema de corrupção em torno do ex-secretário Ed Pereira, da Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Florianópolis. Se não acredita na transcrição, reproduzo:

Escolhi esse entre tantos áudios coletados pela investigação porque resume, em meros 20 segundos, praticamente todo o esquema.

O áudio traz o “braço-direito” de Ed Pereira, Renê Justino, falando com seu “braço-direito”, Cléber Ferreira, que era necessário transformar em Micro Empreendedores Individuais (MEIs) todos os laranjas que eles utilizavam para desviar recursos de convênios da prefeitura de Florianópolis, porque não estavam mais sendo aceitas notas fiscais avulsas.

No mesmo áudio, Renê também diz que em “quatro meses já limpa o dinheiro que a gente precisa” – deixando claro que se tratava de lavagem de dinheiro.

Precisamos enfatizar de onde, supostamente, os investigados tiravam dinheiro através de um laranjal de MEIs e notas avulsas. Com as palavras certas, como fez a delegada Patrícia Cristina Fronza Vieira no inquérito, escolho um exemplo eloquente.

É estarrecedor, somente no mês de julho de 2023 o grupo criminoso desviou, subtraiu, embolsou de forma criminosa o montante de R$ 7.000,00 (sete mil reais), em face a um Projeto Social, desenvolvido pela Associação de Pais e Amigos de Autistas, esse valor deveria estar sendo empregado de forma
integral para garantir um atendimento de qualidade às pessoas com transtorno do espectro autista da Capital Catarinense.

Desde que foi afastado da Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Florianópolis, em janeiro, por determinação judicial, Ed Pereira apostou numa postura de dobrar a aposta.

Levado ao cargo pelo ex-prefeito Gean Loureiro (União), de quem foi o escolhido para concorrer a deputado federal em 2022, obtendo a segunda suplência, ele havia sido recolocado no posto pelo prefeito Topázio Neto depois das eleições até a exoneração forçada.

Após esse movimento, em entrevista ao Cabeça de Político, Topázio garantiu que depois de ter acesso aos conteúdos da Operação Presságio, não considerava o retorno do ex-secretário caso liberado pela Justiça.

Inicialmente recluso, Ed passou a mostrar as caras, mandar indiretas nas redes sociais, fazer vídeos exaltando ações na gestão. Marcava políticos nas postagens. Até mesmo a ideia de concorrer a prefeito este ano começou a aparecer no jogo – para espanto daqueles que não imaginavam tamanha auto-estima.

A prisão de Ed Pereira e seu núcleo próximo pode colocar fim a esse laranjal. Mas a Operação Presságio não pode parar por aí. É preciso entender até onde o suposto esquema agia, quem mais poderia ter se beneficiado dele.

Peso político do caso Ed Pereira

Politicamente, a prisão chega em um momento de estremecimento da relação entre Topázio e Gean, que ameaçava não apoiar a reeleição do ex-colega de chapa por não se sentir devidamente representado no primeiro escalão do atual prefeito.

Os adversários de Topázio já exploram a vinculação do laranjal de Ed Pereira com a gestão da prefeitura. O prefeito ressalta que os controles internos foram aprimorados em sua gestão e que contribuiram para que o suposto esquema fosse desvendado. Em política, vale o convencimento.

Topázio, ainda favorito à reeleição, tem o dever e o direito de mostrar que não é complacente com o laranjal do ex-secretário. A Controladoria-Geral do Município fez, em 13 de março deste ano, quase dois meses depois da primeira fase da Presságio, a suspensão de repasses para 37 Organizações da Sociedade Civil (OSCs) com suspeitas de irregularidade.

Todas elas estavam envolvidas com projetos esportivos comunitários entre os anos de 2019 e 2023. Entre elas, o Instituto Bem Possível, ligado a Ed Pereira.

É hora desse grande pente fino ser ampliado ao máximo, não para colocar em dúvida a atuação de quem faz as coisas corretamente, mas para garantir à sociedade que não há compromisso com o erro, com a corrupção e com grupos que tomaram conta da máquina pública.

Por sorte, a estupidez, a arrogância e a certeza de impunidade dos supostamente envolvidos os fez alardear em mensagens de WhatsApp os detalhes de como burlavam sistemas da prefeitura. Nem todos são assim.

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