Os desafios de Topázio Neto a partir da Operação Presságio

Polícia Civil realiza mandado de busca e apreensão em prédio da Secretaria de Turismo da Prefeitura de Florianópolis.

Uma operação policial como a Presságio, deflagrada pela Polícia Civil na manhã desta quinta-feira com mandados de busca e apreensão na Prefeitura e na Câmara de Vereadores de Florianópolis, traz importantes desafios nas áreas política, administrativa e, obviamente, criminal. Os dois primeiros estão nas mãos do prefeito Topázio Neto (PSD). Ele precisa seguir a risca o que disse no vídeo que publicou nas redes sociais, em que prometeu “não passar a mão na cabeça de ninguém“.

No próprio entorno do prefeito as avaliações são de que a operação realizada pela Diretoria Especial de Investigações Criminais (Deic) está bem feita e que existe materialidade nas investigações. Dois secretários municipais de peso e prestígio político serão afastados por decisão judicial – Ed Pereira (União), do Turismo, e Fábio Braga (PSD), do Meio Ambiente, como revelou inicialmente a jornalista Ana Scholler no ND+.

Topázio Neto assumiu a prefeitura no final de março de 2022 em uma espécie de guarda compartilhada com o antecessor, Gean Loureiro (União), que renunciara para concorrer a governador. Até o final daquele ano, o prefeito manteve a maior parte dos integrantes da gestão que assumiu, excluindo os que pediram exoneração para concorrer naquelas eleições, caso de Ed Pereira, que disputou uma vaga de deputado federal. Era importante para o projeto eleitoral que a prefeitura ainda tivesse mais a cara de Gean que a de Topázio.

A partir de 2023, o atual prefeito fez modificações importantes e passou a imprimir seu estilo, com forte presença nas redes sociais. Mas a guarda compartilhada não foi totalmente encerrada. Mesmo conseguindo resistir ao retorno de nomes ligados a Gean, como Constâncio Maciel, e à nomeação Cíntia Loureiro, Topazio reconduziu Ed Pereira ao secretariado, entre outros. Fabio Braga, que chegou a presidir a Câmara de Vereadores no primeiro mandato de Gean e não se reelegeu, resistiu às mudanças.

Importante lembrar que no centro das investigações está a contratação emergencial de uma empresa de Rondônia para a coleta de lixo durante uma greve da Comcap em 2021. A Deic aponta indícios claros de que a empresa já recrutava trabalhadores para operar em Florianópolis antes mesmo da greve da autarquia. A greve permitiu à prefeitura, gestão Gean Loureiro, fazer a contratação emergencial da empresa, em um contrato que seria postergado por 17 meses, sem licitação.

No vídeo e entrevistas desta quinta-feira, Topázio ressaltou que mudou a empresa terceirizada que hoje divide com a Comcap as tarefas de coleta de lixo na Capital. Ressaltou, ainda, a criação de um núcleo anticorrupção dentro da prefeitura que tem trabalhado em sintonia com a Polícia Civil. A forma como o prefeito vai lidar com uma operação desta envergadura é fundamental para o futuro adminstrativo e político da gestão.

Em 2007, Dário Berger (ainda no PSDB) viveu a Operação Moeda Verde, da Polícia Federal, que investigava corrupção na aprovação de empreendimentos que violavam a legislação ambiental. Teve secretários afastados e foi considerado carta fora do baralho para a eleição do ano seguinte. Contra os prognósticos, ele manteve sua base política, migrou para o PMDB (hoje MDB) e conseguiu se reeleger.

Em 2014, Cesar Souza Junior (PSD) enfrentou a Operação Ave de Rapina, também da Polícia Federal, que investigou fraudes na contratação de radares, entre outros temas. Foi o marco político do final melancólico de uma gestão que começara muito bem. Ali se desorgarnizou a base aliada ao prefeito, que acabaria nem concorrendo à reeleição.

Os casos são diferentes. Tanto Moeda Verde quanto Ave de Rapina contavam com um protagonismo maior da Câmara de Vereadores nos fatos investigados – na Operação Presságio, apontam as primeiras investigações, o parlamento municipal entra colateralmente. Topázio não é Dário e nem Cesar Junior, mas também vai enfrentar um enorme desafio administrativo e político.

Os adversários, à esquerda e à direita, se posicionam no tabuleiro. Faz parte do jogo. Líder da oposição na Câmara, Afrânio Boppré (PSOL), diz que “o governo Topázio está sob suspeita faz tempo”, que “corrupção virou rotina e falta caneta do prefeito para demitir os secretários envolvidos”. Fala “em rabo preso”.

À direita, cada vez mais franco atirador, o ex-deputado estadual Bruno Souza (Novo) ressaltou ser a segunda investigação envolvendo cargos nomeados em poucos meses e que “está na hora de rever os critérios de nomeação para cargos comissionados”, “deixar de lado o apadrinhamento e focar em capacidade técnica”. Afirma que “gestão municipal é coisa séria”.

Politicamente, Topázio ainda caminha para uma cenário de favoritismo na disputa pela reeleição. Tem ao seu redor um grupo político consolidado e apoios importantes nas entidades empresariais, além da boa imagem que conquistou junto à população com o tom informal com que trata as questões de governo nas redes sociais. O desafio, para manter essa condição, é fazer desse limão uma limonada.


Polícia Civil chega à sede da Secretaria de Turismo. Foto: Divulgação, PCSC.

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