O planejamento urbano precisa dar “menos prioridade para os automóveis”

As políticas de planejamento urbano precisam priorizar as pessoas e não os carros, defende Felipe Cavalcante, fundador do Movimento Somos Cidade. O empresário e consultor veio a Florianópolis para lançar o livro “Inspiração Urbana – Ideias e soluções para cidades brasileiras”, da qual é organizador, e trocar ideias sobre os desafios que envolvem o futuro dos núcleos urbanos em todo o mundo. Em conversa com a coluna, ele critica o modernismo e afirma que as cidades ficarão “inviáveis” se não mudarem suas prioridades. “Tudo foi feito para dar conforto e velocidade para os automóveis”, questiona. Ele defende o adensamento dos territórios, tema que surgiu com força em Florianópolis durante a discussão sobre a revisão do Plano Diretor, como forma de garantir mais qualidade de vida à população.

Por quê você entende que o modernismo foi uma tragédia para as cidades e que as deixou monótonas?
O modernismo na arquitetura e, especialmente, no urbanismo. Antigamente, tínhamos a beleza clássica. Nos centros urbanos, qualquer prédio construído antes de 1920 tem muitos detalhes, ornamentos, são prédios elaborados, interessantes, O que o modernismo disse? A gente precisa acabar com esse tipo de beleza clássica, aprimorada por milênios. Com o modernismo, é a repetição, a função em vez da forma. A beleza passa a não ser importante, e sim a padronização. Então, se você chega em algum lugar e percebe que tudo é repetido, igual, você perde o interesse. Por causa disso, o modernismo trouxe a monotonia. E o ser humano não se interessa.

Felipe Cavalcante questiona prioridade aos carros

Você fala que “a gente parou de construir cidades para as pessoas”. É um padrão mundial?
Sim, no mundo todo. Por causa do modernismo e da priorização das cidades para os automóveis. Muitas pessoas, como eu, passaram a infância andando e brincando nas ruas. E hoje em dia não se consegue, não só pela violência, e sim pelo design das cidades, que privilegia grandes avenidas. Isso é perigoso. A gente precisa virar essa página e realmente começar a fazer de novo as cidades para as pessoas e com menos prioridade para os automóveis. Essa é uma onda, que está deixando de ser uma marolinha. Vai se tornar um tsunami em em 10 ou 20 anos. A gente já viu isso com muita clareza no exterior, onde as cidades estão voltando com muita força. Paris é o maior exemplo disso. E no Brasil está começando a chegar com um pouco mais de força. Um dos pontos chave é a questão do carro, da excessiva prioridade dada aos carros. A cidade não pode ser só para eles. Assim, as cidades vão ser inviáveis. Não adianta, por mais que você construa infraestrutura, sempre vai ter mais trânsito. O grande problema atual é que a gente planeja a nossa cidade para os automóveis e não para a velocidade das pessoas.

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Qual sua opinião sobre o adensamento das cidades, que foi um dos pontos principais da discussão sobre o Plano Diretor de Florianópolis? Você fala, por exemplo, que há “há uma excessiva preocupação com a altura dos prédios”
Eu não sou favorável, necessariamente, à verticalização, mas sim ao adensamento nas áreas que são dotadas de infraestrutura. O adensamento reduz muito a pegada de carbono. E quanto mais adensado, maior a viabilidade do transporte público, a viabilidade do varejo, das lojas etc. Maior a vibração das cidades.Tudo funciona melhor com mais adensamento. Menos o carro. Aliás, quando você adensa mais, não se precisa tanto de carro. Então, o adensamento é fundamental. Mas a verticalização em si não, tem boas e ruins. Depende de como ela for trabalhada. Ela será boa se for densa, porque assim mais pessoas vão estar naquele local. As pessoas se preocupam demais com a verticalização e pouco sobre a relação dela com o espaço público.

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