
O Carnaval brasileiro é um dos maiores espetáculos do mundo, movimenta bilhões de reais,
gera empregos e impulsiona o turismo. No entanto, por trás do brilho das fantasias e da
grandiosidade dos desfiles, trabalhadores enfrentam jornadas exaustivas, baixos salários e
condições precárias de trabalho.
O incêndio na Maximus Confecções, no Rio de Janeiro, ocorrido na última quarta-feira (12),
expôs essa dura realidade. A fábrica, que produzia fantasias para escolas da Série Ouro,
funcionava 24 horas por dia, com cerca de 100 aderecistas se revezando no espaço, e
muitos dormiam nos ateliês. O incêndio deixou 21 feridos, 10 em estado grave, às vésperas
do Carnaval.
Essa não é uma realidade exclusiva do Rio. Trabalhadores do Carnaval em todo o Brasil
enfrentam condições semelhantes, sem segurança, com prazos apertados e pouca
valorização. Enquanto os desfiles movimentam milhões com venda de ingressos, camarotes
de luxo, direitos de transmissão e patrocínios, aqueles que fazem o espetáculo acontecer
seguem invisíveis e expostos a riscos diários.
“A preocupação é enorme”, diz presidente da FENASAMBA.
O impacto da tragédia foi imediato no mundo do samba. A FENASAMBA (Federação
Nacional das Escolas de Samba) recebeu a notícia com grande preocupação, como
explicou seu presidente, Kaxitu em entrevista exclusiva para a Ponte Cultural:
“A FENASAMBA recebeu essa informação com enorme preocupação. Primeiro,
porque tinham trabalhadores dentro desse galpão com dificuldade para sair, e algumas
pessoas foram internadas em estado grave. Depois, pela preocupação com as escolas de
samba, pois eram várias que tinham material armazenado lá. Além disso, eram roupas de
diretoria, integrantes e peças essenciais para os desfiles da Sapucaí e da Intendente
Magalhães. Esse incêndio mexe com escolas de todas as divisões do Rio e impacta de
maneira muito forte.”
A tragédia ocorre em um momento crítico da produção carnavalesca e levanta um alerta
sobre a precariedade enfrentada pelos trabalhadores do setor. Mesmo sendo uma das
indústrias culturais mais lucrativas do país, a estrutura do Carnaval ainda carece de
regulamentação e condições dignas de trabalho para aqueles que fazem a festa acontecer.
Futuro do Carnaval e segurança dos trabalhadores
Segundo Kaxitu, a FENASAMBA já discute ações para melhorar as condições de trabalho
no setor, incluindo estudos e projetos para regulamentação do trabalho nas escolas de
samba. A entidade tem participado de debates com o Ministério da Cultura, a Fundação
Palmares e a FUNART para avançar em medidas que garantam mais segurança aos
trabalhadores.
“A federação foi criada para pensar políticas para todo o Carnaval, desde a
organização dos eventos até a segurança e condições dos trabalhadores. Estamos
desenvolvendo o Plano Nacional da Cadeia da Economia do Carnaval, baseado em um
estudo iniciado entre 2014 e 2016, e nossa ideia é estruturar soluções que possam
melhorar a situação desses profissionais.”
Apesar do esforço coletivo, o presidente da FENASAMBA reforça que a solução passa por
uma transformação mais ampla na organização do Carnaval:
“Não adianta culpar apenas as escolas de samba. O Carnaval precisa acontecer, os
recursos nunca são suficientes, e as escolas fazem o que podem dentro das possibilidades.
Muitas vezes, os trabalhadores se sujeitam a condições ruins por amor à festa. Mas isso
precisa mudar. Após esse momento de reconstrução, precisamos pensar no futuro e
garantir que os trabalhadores que fazem o espetáculo acontecer tenham segurança e
dignidade.
Ele explicou ainda que a FENASAMBA está realizando uma pesquisa para entender melhor
o funcionamento da cadeia produtiva do Carnaval e ouvir os profissionais sobre suas
necessidades. O objetivo é construir um futuro mais seguro e sustentável para quem
trabalha no maior espetáculo da cultura brasileira.