Nelson Dornelas escreve artigo sobre os desafios da transição energética para fontes renováveis e a necessidade de um planejamento que aponte para soluções limpas como o hidrogênio verde.
A mudança de paradigma entre os combustíveis fósseis e as fontes de energias renováveis tem sido um caminho lento, porém constante. Muitas transformações vêm sendo adotadas desde o início da década de 1980, período que originou, inclusive, o Dia Mundial da Energia, celebrado nesta quarta-feira, 29 de maio.
Naquela época, iniciou-se uma transição no setor de transportes, com incentivos para o consumo de etanol. Já o começo do século 21 foi marcado pela entrada do biodiesel e, agora, o processo passa pela popularização dos carros elétricos.
Para atender a crescente demanda, a perspectiva é que a energia proveniente do hidrogênio desponte como a nova onda mundial. Este produto, obtido no processo de eletrólise da água, tem mais energia que a gasolina e atrai a atenção de grandes empresas, pois traz praticidade e maior autonomia de abastecimento.
Vale destacar que, no setor elétrico, o Brasil é o país com maior percentual de uso de energia limpa e renovável do planeta. Até a poucos anos atrás, a energia limpa gerada no país era predominantemente hidrelétrica, equivalente a 80% e térmica fóssil, cerca de 20%. A partir de 2010 houve uma grande expansão para fontes eólicas e, nos últimos cinco anos, de fonte solares.
O setor de planejamento de energia elétrica no país tem o desafio de tornar esta oferta, híbrida, com a necessária estabilidade. Isso porque atualmente com a maior participação da geração intermitente, eólica e solar, o sistema elétrico interligado vem apresentando problemas de estabilidade incluindo apagões significativos, mesmo com os reservatórios em seu momento de maior disponibilidade.
Enquanto o desenvolvimento de superbaterias não se viabiliza, o planejamento não deveria esquecer as hidrelétricas que fornecem segurança e estabilidade ao sistema, pois contam com reservatórios que regularizam o fornecimento. Porém, com o provável incremento de fontes intermitentes, os atuais reservatórios não conseguirão segurar o sistema. Consequentemente virá a solução fácil (e questionável) de aumento da implantação de térmicas, um tipo de energia cara e contrária à transição energética.
O fato é que a transição energética é uma realidade, um caminho sem volta. Devemos aproveitar este novo tempo para ampliar os projetos de hidrogênio verde, um potencial de geração energética limpa e renovável para atender as crescentes demandas. O Brasil tem condições de investir neste novo modelo e, assim, revolucionar o mercado global de energias renováveis.
Nelson Dornelas é engenheiro civil e fundador da Estelar Energia.