A mais importante notícia da semana surgiu da boca de Tânia Eberhardt, a secretária de Saúde da prefeitura de Joinville. Em claro e bom português comparou a fila de espera dos doentes por dengue nas UPAs com a demora, em fins de semana de verão, para ir para as praias.
Veja o vídeo se não acredita
A comparação é um evidente absurdo. A fala revela pelo menos duas coisas: 1. que, por mais experiente, treinado ou competente que seja, a pessoa sob forte pressão acaba por dizer o que não deve. O subconsciente trai. E a psicologia explica.
E 2. Não faz nenhum sentido igualar viagem a lazer com ida a um posto de saúde, a um hospital. No primeiro caso, a expectativa é por diversão. No segundo é para tratar da saúde, evitar agravamento de quadro clínico comprometido – e, no limite, desejar sair vivo.
A “filinha” de quatro horas, cinco horas, seis horas, que a secretária admite ter nas unidades de pronto atendimento, por si só, já é uma contradição enorme. Se é local de pronto atendimento, o atendimento tem de ser rápido.
Está bem que a questão da saúde sempre foi, continua sendo e dificilmente vai deixar de ser o maior desafio dos gestores públicos. Em Joinville, inclusive.
A dengue já matou 19 pessoas em Joinville neste ano. Com mais de 11 mil casos da doença. No Brasil já somam mais de 3 milhões de casos. E como todos sabem, os números são sub notificados, o que significa que há muito mais doentes por dengue do que mostra qualquer estatística oficial.
E todos também sabem que saúde e economia são entrelaçadas por várias razões: produtividade, absenteísmo ao trabalho, custos para o Sistema Único de Saúde, o SUS, e por aí vai.
Quando Tânia Eberhardt assumiu a secretária de Saúde da prefeitura de Joinville, em 24 de abril de 2023, o fato foi saudado com expectativas de que os serviços de saúde de responsabilidade do município seriam melhorados. Afinal de contas, curriculum e prestação de serviços relevantes ao município constam da biografia da secretária.
Como vemos, os dramas humanos de milhares de joinvilenses vivenciados cotidianamente em razão da explosão de casos de dengue, desde o final do ano passado, estão superando qualquer esforço – e, reconheçamos, o esforço é grande – por parte do Poder Público, para diminuir a aflição coletiva.
A dengue mata.
Por isso, as frases da secretária Tânia Eberhardt, nesta semana, na audiência com vereadores e a comunidade, precisam ser analisadas.
Não foi apenas uma fala no calor das emoções. Foi um raciocínio inaceitável.
A situação, por óbvio, viralizou. O vídeo foi mostrado nos mais diversos e importantes sites de notícias do país.
Se saúde sempre é tema número um de campanhas eleitorais, neste ano de 2024, em Joinville, na disputa pela prefeitura, em outubro, será o tema número um, número dois e número três dos candidatos de oposição.
Foto: Câmara de Vereadores de Joinville/Divulgação.