Por Jeffersom Mattivi
Nos últimos dias, todos nós acompanhamos a situação do maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul, que elevou o nível de vários rios em uma forma sem precedentes. Aqui em Uruguaiana, no Oeste Gaúcho, mais de 2 mil pessoas foram retiradas de suas casas e esse número deve continuar aumentando.
O que se percebe, de maneira geral, é a falência da política do grito diante do teste de fogo que esse cenário de guerra impõe.
A política do grito foi fortalecida nos últimos anos com a ascensão das redes sociais. No Congresso, a nova realidade digital mudou tanto os bastidores da política que quase nenhum deputado ou senador usa a palavra sem antes consultar se seu assessor de comunicação está posicionado com o celular gravando. Muitos deles, inclusive, chegam a fazer falas já pensando no possível recorte para as redes, valorizando o engajamento acima da própria efetividade do assunto a ser tratado.
Essa política do grito tem como característica acentuar a polarização e desprezar o diálogo, geralmente partindo pro embate para conseguir mais engajamento na rede social. A entrega não importa e o público também não cobra. O que parece ser essencial é a fala agressiva em diferentes assuntos e o reforço de crenças para gerar compartilhamentos em reels.
O cenário de guerra vivido pelo Rio Grande do Sul mostra a ineficiência desse tipo de política. Quando as pessoas lutam pela sobrevivência, um discurso vazio e polarizado perde o sentido. Por aqui, nesse momento todos desprezam o tom polêmico, que incentiva o “chisme”, como dizem os gaúchos ao se referirem ao termo briga ou bagunça.
A antiga forma de fazer política, que não é o mesmo de velha política, vem se mostrando mais efetiva. No lugar de briga, onde jogam para a torcida, esse tipo de política foca na solução imediata e não deixa de dialogar com o próximo, mesmo que ele seja de uma outra linha ideológica.
O foco é nos recursos imediatos e as pessoas prezam por isso. Atualmente, quando um político teoriza demais ou cria polêmica sobre soluções para a tragédia no Estado, é criticado por todos que entendem a urgência que a situação pede.
A triste e lamentável situação do Rio Grande do Sul nos traz vários aprendizados. Um deles, certamente, é de que a política do grito pode crescer no cotidiano, quando podemos ser facilmente ludibriados e levados para fora da realidade e levados por discursos sensacionalistas.
Agora, quando a realidade bate à porta e nos traz um cenário de guerra e necessidade de sobrevivência, esse tipo de política cai por terra e é mostrado como realmente é: um conjunto de palavras ao vento, focado na polarização e engajamento para a rede social, sem compromisso com a solução de problemas que habitam na realidade.
Jeffersom Mattivi é jornalista e profissional de comunicação política.