A vereadora de Florianópolis Carla Ayres (PT) recebeu uma nova ameaça de morte na tarde de terça-feira. Na quarta, durante evento na Câmara de Vereadores, a parlamentar confirmou recebimento de um e-mail contendo detalhes precisos do cotidiano dela – incluindo endereço residencial. Um boletim de ocorrência foi aberto ainda no dia do fato e, nesta quinta-feira, a vereadora tem uma reunião na polícia federal. A câmara municipal também foi acionada.
No e-mail, o autor faz referência ao projeto apresentado pela parlamentar em março de 2021, que prevê distribuição de absorventes na rede pública de saúde para mulheres em vulnerabilidade socioeconômica. Em meio a ofensas homofóbicas, ameaça uso de arma de fogo para atentar contra a vida da vereadora.
“Caso você não desista deste projeto, eu juro, mas eu juro do fundo do meu coração que eu vou trocar o meu corsa em uma PISTOLA 9MM no morro do são camilo [sic] e vou comprar uma passagem só de ida para METER UMA BALA NA SUA CABEÇA E EM TODAS AS SAPATONAS, NEGROS, GAYS E HOMOSSEXUAIS QUE ESTIVEREM ali. Eu vou espalhar sua massa encefálica pelo chão. Você está avisada. Não durma tranquila”, diz o texto.
O e-mail é assinado por um acusado de enviar ameaças de morte anteriores a outras parlamentares, também do PT. Em São Paulo, a vítima foi a vereadora Thainara Faria.
Ao todo, Carla abriu cinco boletins de ocorrências por ameaças recebidas em canais de comunicação. A parlamentar também havia acionado a polícia federal e a Câmara Municipal de Florianópolis diante das ocorrências anteriores e acionou novamente frente à nova ameaça recebida.
– É lamentável que no Dia do orgulho LGBTI+, uma mulher lésbica eleita democraticamente tenha que vir a público falar sobre mais uma ameaça à sua vida e à vida das pessoas que lutam ao seu lado. Ao invés de celebrar esta data, recebemos ameaças de ataques contra as nossas vidas e nossas existências. Nós precisamos que medidas efetivas e urgentes sejam adotadas em todas as esferas públicas, no sentido de assegurar o livre exercício de mandatos de luta como o nosso e exigimos que os responsáveis sejam identificados e punidos. As 273 pessoas LGBTI+ assassinadas no Brasil em 2022 são a prova de que esses agressores não estão para brincadeira e que suas ameaças não são simples retórica – diz.
Em fevereiro deste ano, Carla já havia recebido uma ameaça de morte. Na ocasião, as também vereadoras Ana Lúcia Martins (PT) de Joinville, Giovana Mondardo (PCdoB) de Criciúma e Marlina de Oliveira (PT) de Brusque, além da secretária estadual de mulheres do PT Santa Catarina, Maria Tereza Capra, de São Miguel do Oeste, também haviam recebido a ameaça.
Nas redes sociais, as lideranças manifestaram solidariedade a Carla.
– A violência política de gênero tem nos afetado cotidianamente, de forma explícita ou não, e adoece, ameaça a vida e impede que a vereadora exerça seu mandato com liberdade e segurança. O motivo da ameaça sofrida pela vereadora, segundo o agressor, é a defesa que a mesma faz de grupos vulnerabilizados. Nesse caso, se trata da lei que garante a distribuição de absorvente para meninas, jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade extrema – escreveu Ana Lúcia.
A deputada estadual Luciane Carminatti (PT) escreveu que “quando ameaçam de morte uma mulher lésbica, vereadora, que ocupa o espaço público e dá voz a quem sequer tem direito a existir, tentam calar toda luta LGBTQIA+. Exigimos respeito, justiça e segurança. Todo apoio e solidariedade à Carla Ayres. A intolerância e o ódio não vencerão!”.
Por meio de nota oficial, a Câmara Municipal de Florianópolis disse repudiar qualquer atitude de preconceito que desrespeita a diversidade e os ataques à parlamentar, “que defende e luta pelo direito de existir, pela comunidade e por espaços na sociedade”.
“O Legislativo Municipal reafirma posição totalmente contrária a qualquer tipo de discriminação, seja de gênero, raça, crença ou cor, e manifesta total solidariedade para com a vereadora Carla Ayres. A luta contra a discriminação, seja ela de qualquer tipo, é dever de todo cidadão, em busca de uma sociedade mais democrática e justa em todas as suas esferas sociais”.