Por Vitor Xuxa
Tambores de guerra ressoam por todo o globo. Vivemos atualmente o maior número de conflitos armados desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Estamos no auge da crise migratória, golpes de estado são tramados sob a cobertura televisionada dos meios de comunicação. Tudo isso nos faz ter certeza de que os próximos anos podem ser tudo, menos tranquilos.
O grande consenso construído no mundo Ocidental, que nasceu após o Tratado de Paris (1947), está enfraquecido. A democracia não se consolidou como valor universal, os direitos humanos tampouco, e a laicidade do Estado está sendo substituída pelo fortalecimento de valores religiosos à frente dos governos. Assim, um novo programa de extrema direita – que vivia velado após a tragédia do nazifascismo – está se fortalecendo e mostrando sua verdadeira face sob a liderança de Trumps e Mileis.
No Brasil, os desastrosos quatro anos de governo Bolsonaro marcaram o escalonamento da polarização política nacional. Este período marcou profundas mudanças e novidades no cenário político. Entre essas mudanças, podemos registrar o fechamento do espaço político para partidos de direita que não aderem ao programa da extrema direita bolsonarista. Um bom exemplo desta tendência é o que vem acontecendo com os liberais do Partido Novo.
Fundado em 2011 e registrado oficialmente em 2015, o Novo se apresentou no cenário político nacional como novidade, tanto na forma quanto no conteúdo. Além de abrir mão do uso do fundo partidário, o agrupamento político se propunha a ser um partido militante e radicalmente liberal, e em 2018 surpreendeu ao eleger o governador de Minas Gerais – Romeu Zema – e uma bancada federal de oito deputados.
No entanto, após quatro anos do governo Bolsonaro, o cenário positivo de 2018 mudou drasticamente. João Amoedo, que concorreu à presidência em 2018, foi expulso do próprio partido que fundou – ao declarar voto democrático em Lula nas eleições de 2022 – e sua bancada federal foi reduzida de oito para apenas três deputados. A ideia de um novo partido liberal, portanto, perdeu espaço para o bolsonarismo puro sangue, e figuras proeminentes do partido começam a perceber que, para ser de direita, é preciso ser Bolsonaro.
Aqui em Santa Catarina este projeto elegeu o prefeito de Joinville, maior cidade do estado, em 2020 e mesmo assim é visível o descolamento político de liberais para o campo abertamente bolsonarista. Bruno Souza, ex-deputado estadual, troca o partido de Gilson Marques pelo PL. Ao som de louvores, Manu Vieira, única vereadora eleita pelo Novo em 2020, aproveita a janela partidária para ingressar no partido de Bolsonaro.
Este movimento chama a atenção, pois, para a extrema-direita, fidelidade ideológica é mais importante que fidelidade partidária. Mesmo políticos que nunca foram dos partidos do ex-presidente, ao assumirem seu programa político, conseguem atrair o eleitor bolsonarista, como é o caso de Clésio Salvaro (prefeito de Criciúma, PSD), João Rodrigues (prefeito de Chapecó, PSD) e Fabrício Oliveira (prefeito de Balneário Camboriú, que, após transitar por PTB, PSDB, PSB e Podemos, filiou-se ao PL em 2022).
O projeto da extrema direita para Santa Catarina é ousado e exequível. Envolve conquistar a prefeitura de mais da metade dos municípios catarinenses. Enganam-se aqueles que explicam as trocas de siglas apenas por oportunismo político. Nem mesmo a aberta tentativa de golpe de Estado no fatídico penúltimo oito de janeiro constrangeu essas lideranças de ingressarem no projeto político de Bolsonaro.
O ingresso no PL ou a tentativa de chegar no eleitor bolsonarista são acompanhados pela cobrança de assumir o programa político da extrema direita e que envolve a perseguição a moradores de rua, a propaganda anticomunista, o combate à estrutura sindical e a exaltação e defesa radical dos costumes conservadores.
Ventos estranhos e perigosos rondam Santa Catarina. Resistamos!
Vitor “Xuxa” Rollin Prudêncio é presidente estadual da Federação PSOL-Rede.