Logística: falta de prioridade no passado já cobra preço alto. Por Beto Martins

Por Beto Martins

Se a natureza nos foi pródiga, afinal somos o único Estado do Brasil com cinco portos naturais de águas profundas, aeroportos bem distribuídos nas suas principais regiões e uma geografia territorial bastante favorável ao compartilhamento multimodal, lamentavelmente nos faltou, e muito, a visão estadista e a devida prioridade no desenvolvimento da logística de transportes.

Mesmo com pouco planejamento e quase nenhuma prioridade, o setor logístico agregado ao comércio exterior já responde por quase um terça do faturamento da economia do Estado e por consequência se traduz numa das principais ferramentas no desenvolvimento socioeconômico de Santa Catarina.

Temas da importância que envolvem os portos, aeroportos e ferrovias nunca mereceram até 2023 mais do que uma gerência na pasta de Infraestrutura do organograma dos governos em Santa Catarina. A visão sempre foi tacanha, já que lá o assunto dominante era tratar dos buracos e/ou da falta de estradas.

O preço já nos é caro e se não trabalharmos intensamente na busca do tempo perdido, poderá nos levar a danos irreparáveis para as futuras gerações.

Poderíamos citar muitos exemplos, mas para ficar em apenas um, veja o que está acontecendo com a nossa indústria da avicultura e da suinocultura no Oeste do Estado.

O que já foi motivo de orgulho, afinal éramos líderes nacionais com larga folga para o segundo colocado, já não pode mais ser comemorado. Na avicultura já somos segundo na produção nacional e muito em breve deveremos cair para terceiro, na suinocultura o primeiro lugar corre o risco de também ser perdido em breve.

Motivo: ineficiência logística, já que o principal insumo desta indústria é o milho (ração), que vem de caminhão do Mato Grosso e Goiás. Com frete caro, estradas ruins e nenhuma outra opção de modal à porta, o resultado é um custo que inviabiliza o desenvolvimento da indústria. Esta situação poderá culminar com a transferência da expansão do setor justamente para os Estados que estão perto dos insumos e tem uma logística mais favorável.

A notícia boa é que finalmente surge um governo que resolveu acordar este gigante adormecido. Com a criação pelo governador Jorginho Mello, da Secretaria de Portos, Aeroportos e Ferrovias (SPAF), agora temos um espaço na agenda pública para tratar com foco e prioridade os assuntos pertinentes a estes modais. Dessa forma tem sido possível trazer Santa Catarina novamente para a ponta dos acontecimentos no setor logístico e manter um diálogo aberto com o setor privado, especialmente os que estão ligados ao setor produtivo e de serviços.

Em apenas nove meses de trabalho já temos dois projetos de ferrovias em processo de execução (Chapecó/Correia Pinto – 319 km) e (Navegantes-Itajaí/Araquari – 62 km), trechos que poderão nos conectar com o tronco sul/corredor nacional, isto ao custo de R$ 32 milhões.

Dos 21 aeroportos públicos do estado, quatro estão com a iniciativa privada e recebendo robustos investimentos (Floripa Airport/Zurich), (Navegantes e Joinville/CCR) e (Chapecó/Socicam).

Dos outros 17, que estão sob outorga federal para o estado ou subdelegados aos municípios, 12 já estão em obras de ampliação e melhorias, com um investimento do governo estadual de R$ 106 milhões.

Além disto, para promover a aviação regional e otimizar linhas nacionais e internacionais nos nossos aeroportos, o governo estadual junto com a Assembleia Legislativa aprovou no último mês de dezembro a lei de incentivos ao querosene da aviação que se constitui certamente agora na mais atrativa do país.

Na área dos portos, com o devido diagnóstico, já estamos trabalhando junto com todas as gestões dos cinco portos no planejamento da solução dos seus principais gargalos para estarmos preparados para o futuro, que com navios cada vez maiores, exigem melhorias significativas e robustos investimentos em seus canais de acesso e dragagem para aumento dos calados.

Não haverá sucesso no futuro se o planejamento não for adequado. Neste sentido o atual governo já contratou um novo Plano Aeroviário (PAESC) – o último, pasmem, tinha sido feito em 1989 – e em 2024 pretende contratar o Plano Estadual de Logística de Transportes (PELT), instrumentos sem os quais não se saberá definir adequadamente as prioridades nos investimentos e muito menos ser eficiente na execução das obras mais urgentes e importantes.

Há muito para ser feito. A visão de Estado e não apenas de governo já conquistamos. Agora é colocar em prática o que o cidadão catarinense mais sabe fazer e dar exemplo ao Brasil: sermos resilientes, darmos as mãos e trabalharmos por um futuro melhor.


Beto Martins (PL) é secretário estadual de Portos, Aeroportos e Ferrovias.

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